São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2008

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Tempestade na CPI

O VAZAMENTO de informações sigilosas a respeito dos gastos da gestão FHC injetou boa dose de combustível na Comissão Parlamentar de Inquérito dos Cartões Corporativos, cujos trabalhos até agora vinham sendo emperrados pelo espesso governismo da maioria de seus membros. Mas não era esse o único fator a dificultar as investigações da comissão.
Até recentemente, o próprio PSDB não se arriscava a grandes impulsos de apuração no delicado campo das despesas pessoais de chefes do Executivo. Sem dúvida, porque a prudência, como se diria em Paris, "est de rigueur".
Veio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, contudo, o lance dramático, o gesto radical e jacobino, ainda que tardio, capaz de liberar o oposicionismo tucano na CPI. Fernando Henrique autoriza a divulgação de seus dispêndios sigilosos.
Por que só agora? É que a tormenta de indignação gerada pelo famoso dossiê dos gastos cardosianos exigia do PSDB que abandonasse qualquer atitude defensiva. Menos mal.
A teatralidade evidente dos oposicionistas não deixa de ser mais bem-sucedida, do ponto de vista político, que a constrangedora canastrice do governo Lula, negando até o limite do mambembe seu interesse em "levantar" os dados sigilosos do seu antecessor. Fracassado o fugaz sainete do ministro da Justiça, Tarso Genro, em torno de um suposto pedido do Tribunal de Contas da União para conhecer os gastos de FHC, veio o emocionante telefonema de Dilma Rousseff, a mãe do PAC, agora acusada de madrinha do dossiê, à ex-primeira-dama Ruth Cardoso.
Nem por isso amainou essa verdadeira tempestade em copos de champanhe. Investigue-se o vazamento; quebrem-se todos os sigilos, passados e presentes; governo e oposição têm mais o que fazer, decerto, do que comparar os respectivos gastos de copa e cozinha. E, se de suas mútuas picuinhas emergir algum escândalo de peso, pelo menos a comédia terá valido o seu ingresso.


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