São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2008 |
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CLÓVIS ROSSI Desigualdade secular
SÃO PAULO - Peço licença ao bom
ministro Fernando Haddad para
discordar de sua avaliação de que o
grande nó da educação no Brasil é o
ensino médio. É um nó, sim. Mas o
grande problema está na desigualdade social e seu reflexo na educação. Pior: a desigualdade, ao contrário do que diz a propaganda oficial,
não diminuiu no governo Lula.
Em alguns pontos, aliás, até aumentou. Exemplo: a taxa de analfabetismo na população de 15 anos ou
mais era, em 2005, de 19,4% entre
os 20% mais pobres e de 1,5% entre
os 20% mais ricos. No ano seguinte,
aumentou o analfabetismo entre os
20% mais pobres (para 20,8%) e aumentou também, mas menos, entre
os 20% mais ricos (para 1,8%). Consequência: a desigualdade em pontos percentuais subiu, de um ano
para outro, de 17,9 para 19.
São dados que surgem do estudo
"As Desigualdades na Escolarização no Brasil", preparado pelo Comitê Técnico do Observatório da
Equidade, criado pelo Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência (não é, portanto,
da "mídia golpista").
O número de fevereiro de "Desafios do Desenvolvimento" (editada
pelo Ipea, Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas) antecipa
números, como sempre chocantes.
O espaço não permite resgatar a
maioria deles, mas vale citar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, elaborado pelo MEC de
Haddad, que estabelece a meta de
os alunos alcançarem pelo menos 6
pontos (numa escala de 0 a 10) em
2021. Resultado: os alunos de escolas públicas alcançam 3,6 pontos, ao
passo que, na escola privada, a média é 5,9, quase na meta. Conclui a
revista: "Quem tem condições de
pagar uma escola privada já está em
2021".
Quem não está, fica no século
passado. Como educação é talvez a
mais vital alavanca para reduzir desigualdades, tem-se que elas só podem eternizar-se.
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