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FERNANDO RODRIGUES
Os traseiros de cada um
BRASÍLIA - Para usar a mesma terminologia presidencial, há quanto
tempo Lula não levanta o traseiro da
cadeira para negociar um empréstimo bancário? A julgar pelo que tem
dito, há muito tempo.
Para começar, é difícil um banco
emprestar dinheiro para quem não
tem conta na instituição. O passo inicial é sempre abrir uma conta. Se o
empréstimo fica caro, pela cartilha de
Lula, muda-se para outro banco.
Não é uma tarefa simples.
Tivessem Lula e seus 36 ministros e
secretários com status de ministro
um contato maior com a realidade, o
presidente não apontaria a abulia
crônica do brasileiro como um dos
fatores mais relevantes para o ciclo
perverso de juros altos. Não que os cidadãos deste país sejam um exemplo
de persistência e obstinação -apesar
de a propaganda paraestatal de estilo
sub-Zefirelli martelar o slogan "sou
brasileiro e não desisto nunca".
O consumidor é apenas a parte
mais frágil do processo. Milhões de
brasileiros recebem seus salários por
meio de depósito em um banco que
não escolheram. A lei até garante a
possibilidade de mudança. Mas vá lá
o peão causar esse infortúnio ao patrão para ver o que acontece.
Há anos também repousa no STF
uma ação que determinará se os
bancos devem ou não se submeter ao
Código de Defesa do Consumidor.
Ninguém no governo se habilita a resolver esse vazio jurídico.
Nos talões de cheques vem anotada
a data de criação da conta. Mudar de
banco é um risco. Ao entrar numa loja, o consumidor pode topar com a
inscrição: "Não aceitamos cheques de
contas com menos de um ano".
Como se não bastasse, para abrir
uma nova conta, o interessado terá
de fotocopiar documentos, autenticá-los em cartório e enfrentar filas. Depois, precisa transferir os seus débitos
automáticos para o novo banco.
O que fez ou faz o governo para minimizar esse calvário? Nada. Encastelado no Planalto, Lula perdeu vários pontos de contato com a realidade. Na eleição do ano que vem, esse
descolamento pode ser fatal.
@ - frodriguesbsb@uol.com.br
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