São Paulo, domingo, 27 de abril de 2008

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Risco pendular

NAS ÚLTIMAS semanas, consolidou-se no mercado financeiro uma dialética peculiar, e preocupante, em relação à economia dos Estados Unidos. As notícias positivas a respeito da crise por que passa o país aumentam de imediato os riscos inflacionários globais.
Instalou-se uma espécie de pêndulo financeiro, que faz inflar o preço de commodities quando diminui o temor acerca de uma recessão nos EUA -e vice-versa. Por conta de uma seqüência de dias com notícias positivas ou neutras a respeito da economia americana, nesta semana o barril do petróleo negociado em Nova York chegou a impressionantes US$ 120.
O modo como o Fed, secundado pelas autoridades monetárias da Europa, vem lidando com a crise explica um pouco esse fenômeno pendular. O BC americano reduz agressivamente sua taxa de juros de curto prazo e oferece linhas bilionárias para salvar instituições financeiras da bancarrota. Com isso, inunda de dólares a economia internacional. Se consegue evitar uma perigosa reação em cadeia de calotes sucessivos, também estimula a especulação mundo afora.
Essa especulação pega carona num movimento de forte alta do consumo no mundo emergente, em que a oferta de alguns produtos básicos -energia, metais, alimentos- tem dificuldades para acompanhar a demanda. O resultado é que a inflação sobe a níveis já preocupantes justamente no conjunto de nações que lideram o crescimento econômico.
A inflação tende a reduzir o ímpeto da atividade econômica ao longo do tempo -seja porque solapa o poder de compra dos consumidores, seja porque favorece a alta dos juros. Desenha-se, portanto, um cenário incerto para o desempenho futuro das economias emergentes. O Brasil tem condições de minimizar o impacto da crise externa em sua economia. Mas para isso precisa, desde já, adotar uma atitude muito mais prudente, reduzindo os gastos públicos.


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