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CLÓVIS ROSSI
O quintal e suas crises
SÃO PAULO - Faz todo o sentido
esta avaliação do ministro Celso
Amorim: "Para fortalecer nossa inserção global, é necessário começar
pela América do Sul. (...) É inconcebível um Brasil próspero em meio a
uma América do Sul miserável ou
permanentemente sujeita a crises
de governabilidade".
Faz todo o sentido até do ponto
de vista econômico-comercial. Daniel Bramatti mostra, no número
de março da revista da Confederação Nacional da Indústria, que a
América do Sul "absorve 31,5% de
nossas exportações de produtos
manufaturados -os de maior valor
agregado, relacionados a pesquisa e
desenvolvimento e a empregos de
qualidade".
O texto acrescenta o seguinte cálculo do economista Fernando Ribeiro (Fundação Centro de Estudos
do Comércio Exterior): para a indústria manufatureira, o peso da
América do Sul é "até maior" do que
o peso que a China tem para as
commodities -sabidamente decisivo para o desempenho comercial
e até econômico do Brasil.
Pena que a América do Sul continue não sendo próspera como pede
Amorim e enfrente regularmente
crises de governabilidade. Aliás, a
presente conjuntura é prenhe de
crises em quase todos os vizinhos.
Creio ser dispensável citar país a
país, porque todas as crises estão
presentes regularmente no noticiário, em especial o desta Folha, cuja
editoria internacional cobre muito
bem um subcontinente que raramente foi a menina dos olhos da
mídia brasileira.
Pergunta seguinte, óbvia: pode
ou deve o Brasil atuar de maneira
mais incisiva para ajudar, seja na
governabilidade, seja na busca da
prosperidade? Ou é melhor ficar
mesmo no secular conceito de
"não-intervenção", às vezes sábio,
às vezes apenas preguiçoso?
É esse o grande desafio para a política externa de um país que vem
de um ciclo de estabilidade invejável na comparação com os vizinhos.
crossi@uol.com.br
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