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RUY CASTRO
O país doente
RIO DE JANEIRO - Na quinta-feira da outra semana, no Rio, um bebê de quatro meses foi levado pela
mãe e pela tia a um hospital da zona
oeste com sinais de brutalidade pelo corpo. Ao examiná-lo, os médicos
encontraram fraturas antigas e recentes em seus braços, pernas e clavícula, além de hematomas por espancamento. A mãe acusou o marido; este a acusou de volta. Os vizinhos falaram das constantes brigas
do casal e do choro da menina. Pai e
mãe foram presos.
Também naquela quinta, em
Goiânia (GO), outra menina, de nove meses, foi atacada a tesouradas
pela mãe e sofreu várias perfurações antes de ser salva pelo pai, que
arrombou a porta do banheiro onde
a mulher se trancara com o bebê. A
mãe disse ter recebido "ordem de
Deus para sacrificar a criança". Horas depois, na mesma Goiânia, um
PM reformado espancou a filha de
um ano e um mês porque ela "se recusava a falar". A mãe do bebê tentou intervir e também foi agredida.
Dois dias depois, em Santana do
Livramento (RS), uma mulher de
42 anos matou os dois filhos, de oito
e seis anos, com tiros na cabeça, e se
matou em seguida, do mesmo jeito.
Amigos atribuem seu desespero ao
fato de estar separada do marido,
sem pensão, com dois filhos para
criar e a mãe doente.
No mesmo dia, em Porto Ferreira
(228 km de SP), outra mulher, 57,
foi acusada de espancar seus netos,
uma menina de quatro anos e um
menino de dois, usando uma chave
inglesa. As crianças sofreram graves ferimentos na cabeça e fraturas
nas mãos. Ao ser neutralizada pelo
marido, a mulher, que toma remédios "controlados", tentava se enforcar com uma meia de nylon.
Mais do que nunca no Brasil, a
violência está também dentro de
casa. Quando nem crianças e bebês
sentem-se a salvo de seus pais, tios
ou avós, é porque o país parece definitivamente doente.
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