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O FUTEBOL
Decididamente, o futebol
desperta alguma coisa na
maioria das pessoas. No caso específico do Brasil, ele vem despertando
os próprios brasileiros, no meio da
madrugada ou início da manhã, para
assistir às partidas da seleção comandada por Luiz Felipe Scolari. O
esforço pelo menos tem valido a pena. Estamos na final.
Um autor que abordou de forma
bastante interessante a relação do ser
humano com o jogo (a brincadeira)
foi o historiador holandês Johan
Huizinga (1872-1945). Em seu "Homo Ludens", de 1938, ele sugere que
a cultura e a própria civilização podem ser vistas como o resultado de
um jogo. As mais diversas atividades
humanas, aí incluídas linguagem, filosofia, guerras, leis, teriam surgido,
segundo Huizinga, como consequência de uma brincadeira.
A escrita, por exemplo, seria o produto de uma mistura lúdica de sons,
símbolos e significados. O caso do
direito é exemplar. Em alguns tribunais brasileiros, juízes e advogados
utilizam até hoje a toga, numa alusão
ao caráter cênico do mundo das leis.
Para Huizinga, o jogo encerra várias dimensões. Há o lado da competição, o da ilusão e da exuberância, o
do divertimento, de matar o tempo.
Ocorre, pela interação desses elementos, uma espécie de deslocamento da realidade. Quando brincamos, temos a consciência de que estamos operando sob regras diferentes das que regem o mundo real.
Durante os 90 minutos que dura
uma partida de futebol, nos refugiamos num mundo especial, que sabemos como funciona e do qual conhecemos todas as leis. Há, numa partida de futebol -como todos pudemos comprovar ontem- ,espaço
para que experimentemos sensações
como a de tensão ou a de júbilo.
A tese de Huizinga de que a capacidade de brincar está na aurora da civilização é arrojada, mas belamente
defendida pelo autor. Mesmo que
não a aceitemos como uma verdade
absoluta, parece razoável sustentar
que o futebol nos envia, por prazo limitado, para uma outra dimensão,
descolada da realidade. Do jeito que
está a realidade, é um refresco.
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