São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

A Copa que já perdemos

SÃO PAULO - Se eu dissesse que o Brasil só ganhou da Turquia porque sete de seus jogadores aprenderam tudo o que sabem no glorioso Palmeiras, você me levaria a sério?
Não? Pois deveria. Deveria primeiro porque estou trabalhando com uma verdade incontestável: Marcos, Cafu, Roque Júnior, Roberto Carlos, Edilson, Luisão e Rivaldo jogam ou jogaram no Palestra.
Segundo, estou especulando com uma coisa que não pode nem ser comprovada nem desmentida cientificamente. Ninguém jamais saberá o quanto esses jogadores aprenderam no Parque Antártica.
Mas você deveria me levar a sério, acima de tudo, porque a mesma "ciência" que estou aplicando à seleção é a que o mercado usa para criar o risco-país, o ioiô do dólar etc.
Ou alguém vai acreditar, honestamente, que as chances de calote do Brasil eram menores do que as da Nigéria na segunda-feira, maiores na terça e de novo na quarta?
Dívida não é algo que se torne impagável da noite para o dia, como até eu entendo.
O que os crupiês do mercado financeiro fazem é o que fiz no início deste texto: pegam um fato (o Brasil tem vulnerabilidades óbvias e conhecidas faz tempo) e jogam em cima dele as suas especulações.
Há, no entanto, uma diferença portentosa entre a minha "ciência" e a "ciência" dos mercados: eu não interfiro na vida da seleção nem ganho ou perco um centavo com a brincadeira. A não ser, claro, o indizível prazer de irritar um ou outro corintiano ou são-paulino e a aporrinhação de responder a um ou outro e-mail explicando a piada.
Já agentes de mercado interferem, sim, na vida real e ganham (ou podem perder) fábulas de dinheiro com a sua "ciência".
Tem jeito? A curto prazo, além de colocar mais palmeirenses para palpitar sobre o risco-país, não tem. Na Copa dos mercados financeiros, o Brasil já perdeu.


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