|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
A Copa que já perdemos
SÃO PAULO - Se eu dissesse que o Brasil só ganhou da Turquia porque
sete de seus jogadores aprenderam
tudo o que sabem no glorioso Palmeiras, você me levaria a sério?
Não? Pois deveria. Deveria primeiro porque estou trabalhando com
uma verdade incontestável: Marcos,
Cafu, Roque Júnior, Roberto Carlos,
Edilson, Luisão e Rivaldo jogam ou
jogaram no Palestra.
Segundo, estou especulando com
uma coisa que não pode nem ser
comprovada nem desmentida cientificamente. Ninguém jamais saberá o
quanto esses jogadores aprenderam
no Parque Antártica.
Mas você deveria me levar a sério,
acima de tudo, porque a mesma
"ciência" que estou aplicando à seleção é a que o mercado usa para criar
o risco-país, o ioiô do dólar etc.
Ou alguém vai acreditar, honestamente, que as chances de calote do
Brasil eram menores do que as da Nigéria na segunda-feira, maiores na
terça e de novo na quarta?
Dívida não é algo que se torne impagável da noite para o dia, como até
eu entendo.
O que os crupiês do mercado financeiro fazem é o que fiz no início deste
texto: pegam um fato (o Brasil tem
vulnerabilidades óbvias e conhecidas
faz tempo) e jogam em cima dele as
suas especulações.
Há, no entanto, uma diferença portentosa entre a minha "ciência" e a
"ciência" dos mercados: eu não interfiro na vida da seleção nem ganho ou
perco um centavo com a brincadeira.
A não ser, claro, o indizível prazer de
irritar um ou outro corintiano ou
são-paulino e a aporrinhação de responder a um ou outro e-mail explicando a piada.
Já agentes de mercado interferem,
sim, na vida real e ganham (ou podem perder) fábulas de dinheiro com
a sua "ciência".
Tem jeito? A curto prazo, além de
colocar mais palmeirenses para palpitar sobre o risco-país, não tem. Na
Copa dos mercados financeiros, o
Brasil já perdeu.
Texto Anterior: Editoriais: O FUTEBOL Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Vítimas e réus Índice
|