São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Vítimas e réus

BRASÍLIA - Roseana Sarney telefonou anteontem para o presidente do PT, José Dirceu. Em outras palavras, disse o seguinte: "Eu bem avisei que vocês seriam as próximas vítimas".
Ao descobrir que estava sendo grampeada, a então governadora e presidenciável de fato alertou Dirceu, Garotinho e Ciro Gomes de que não seria a única. Agora, está confortavelmente vendo o circo pegar fogo.
Na versão de pefelistas e de petistas, a PF está a serviço do Planalto e da candidatura Serra e age sem limites contra adversários. A principal coincidência entre os dois grampos -o de Roseana e o do PT- é o pretexto de "investigação do narcotráfico".
Provavelmente, um delegado não sabia que o Maranhão não é local de plantio nem rota de drogas. E o outro nem desconfiava que um dos "narcotraficantes" grampeados era prefeito do PT. Desses enganos da vida...
O aparato da PF em São Luiz fazia até escuta a distância, dentro de casas alheias (ou seriam palácios?). "Tão poderoso que nem no Rio, que é o Rio, há estruturas como aquela", ironizou o advogado de Roseana, Antonio Carlos Almeida Castro.
Quando acuada, Roseana tentou inverter o jogo e usar a condição de vítima do grampo para desviar as atenções das acusações no caso Sudam e da montanha de notas empilhadas sobre uma mesa. Não colou.
O PT repete a mesma estratégia: tenta sobrepor o grampo à denúncia de propina na Prefeitura de Santo André, atribuindo tudo à soberba e à tirania dos tucanos. Vai colar?
Uma coisa (o grampo) é uma coisa, outra coisa (as denúncias) é outra coisa. A confirmação de grampo político não inocenta ninguém de nada, só acrescenta mais culpados.
As vítimas vão ficando pelo caminho. Roseana jogou a toalha. Lula deveria rezar com Bispo Rodrigues para o próprio PT isolar culpas e culpados. Quanto a Serra, a campanha passa, mas a fama fica: a de obcecado pelo poder, custe o que custar.
Ciro cresce por causa da força de Patrícia Pillar e da exposição na TV. Ou por tudo isso também?


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