São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2006

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Lula sem politetra-fluoroetileno

JORGE BORNHAUSEN

ESSA HISTÓRIA DE que Lula pode "fazer tudo", "errar tudo", compactuar com a corrupção e proteger corruptos e ainda ter condições de se candidatar à reeleição não é um fenômeno de amnésia coletiva do povo brasileiro, mas um golpe de marketing político. Se dúvida existisse, a comprovação veio sexta, 16 de junho, na Folha, com o artigo "Por um debate de idéias", no qual o presidente do PT e ex-ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, cita-me, indignado, por ter exposto as relações pessoais e apoios explícitos que o presidente Lula dispensou e continua dispensando aos corruptos do "mensalão" e de outros escândalos do atual governo.


Não adianta vetar a discussão sobre corrupção, porque a preliminar da ética tem que ser levantada antes que se fale de projetos


Reclama que estou "arruinando reputações em prejuízo da verdade". Propõe que se discuta tudo, mas se esqueça a corrupção. Ou seja, pede que esqueçamos a verdade e que passemos a falar de mentiras e fantasias. Pois assim, como já recusamos a chantagem do próprio Lula que havia, debochadamente, desafiado a oposição a tratar de corrupção na campanha eleitoral, venho recusar a cavalheiresca proposta do ex-ministro petista de excluir o "mensalão" e outros escândalos do debate político.
Não. Não deixaremos que avancem até outubro as manobras de encobrimento de Lula e seus corruptos. Estamos na hora limite para desmontar essa monstruosa manobra político-eleitoral e vamos destruí-la. É importante considerar, desde já, que não está havendo relaxamento moral, muito menos uma condescendência ou cumplicidade por parte da sociedade, mas um entorpecimento popular por overdose de propaganda, montada com tal frieza e cinismo que tem até nome em código: politetra-fluoroetileno.
O nome da operação indica seu caráter solerte, já que consiste em evitar que "peguem" na imagem de Lula as verdades do seu governo, permitindo-lhe, aparentemente limpo e fagueiro, propalar mentiras e apropriar-se, como se fossem suas realizações, de iniciativas de outros.
O Bolsa Família, por exemplo. Não foi obra dele, mas apenas um nome novo para o conjunto de cartões (como o Bolsa Escola e o Vale Gás) que já existiam e apenas receberam novo nome e nova embalagem. Obra de Lula documentadamente foi o fracassado Fome Zero, mas fracassos ele não quer discutir ou explicar. Quer é propagar imposturas e enganar. Para isso precisava de espaço e audiência, evitando a citação e a indignação com a corrupção e os corruptos do seu governo e do PT. Pois a "operação politetra-fluoroetileno" produziu esses dois efeitos de que Lula precisava: esfriou a indignação com as denúncias (hoje comprovadas pelo isento Ministério Público) e deu espaço para que fossem produzidas e pagas com dinheiro do povo a mais dispendiosa campanha de propaganda oficial já vista no país, como a promovida pela Petrobras, sem benefício para a estatal, mas que sugeria (quanta audácia!) que a auto-suficiência na extração de petróleo, um projeto que se desenvolveu sem recuos nos últimos 50 anos, era "obra" do governo Lula.
Sem falar que, ao mesmo tempo, irrigava com gordas comissões Duda Mendonça, o marqueteiro do caixa 2, das contas em dólares em paraísos fiscais e que é o grande orientador intelectual e moral do presidente. Esse receituário foi aplicado e está esgotado. Não adianta reclamar que lembrar os escândalos do governo é baixaria. Baixaria é a corrupção, baixaria foi o governo e o PT terem se envolvido nos escândalos do "mensalão", dos "vampiros", dos "sanguessugas".
Não adianta vetar a discussão sobre corrupção, porque a preliminar da ética e da moralidade tem que ser levantada antes que se fale de idéias e de projetos eleitorais.
Até mesmo porque Lula e o PT são perjúrios. Em 2002, juraram um "programa" e "compromissos" que não cumpriram. Na verdade, eram apenas palavras e imagens de TV, pois nada do que foi dito e mostrado foi feito no governo.
Além do mais, é significativo que a "operação politetra-fluoroetileno" apenas esconda, com o nome científico da substância, a marca de fantasia teflon que os fabricantes usam para anunciar panelas onde nada gruda.
Mas Lula não tem teflon, apenas foi protegido por uma operação de marketing que se esgotou. Acabou-se a conspiração do teflon, a verdade sobre a corrupção o estigmatizará.
JORGE BORNHAUSEN é senador por Santa Catarina e presidente nacional do PFL.


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