São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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PROPAGANDA FORTE

As imagens são fortes: pesando apenas 39 kg, com a caixa torácica descarnada pelo câncer, o protagonista tem dificuldades para sentar-se em sua cama. Durante os 27 segundos que dura a peça publicitária, Richard Gurlain não diz nada. Nem poderia. Além do câncer no pulmão, que o mataria cinco dias depois da filmagem da cena, aos 49 anos, Gurlain teve sua língua amputada em consequência de um tumor.
A intenção do veiculador da campanha, o Comitê Nacional Contra o Tabagismo (CNCT) francês, era de fato chocar. O comitê calcula que, associando de modo cruento e emocional o fumo à idéia da morte -e uma morte particularmente penosa-, conseguirá fazer com que alguns jovens não comecem a fumar. Para quem já é dependente, abandonar o vício pode ser bem mais difícil. Gurlain, por exemplo, nunca conseguiu. Fumou até o último dia de vida.
A estratégia de fazer campanhas fortes, quase terroristas, foi primeiramente adotada em países anglo-saxões. Resultados animadores em relação aos jovens fizeram com que outros países os imitassem. Até o Brasil estampou nos maços de cigarro fotos ilustrativas de algumas das consequências para a saúde do hábito de fumar. As imagens podem ser consideradas tímidas.
Apesar de ainda despertar alguma polêmica, a propaganda antitabagista nesses moldes mais chocantes faz sentido. Infelizmente, apenas comunicar as pessoas das consequências nocivas do fumo parece ser um freio pouco efetivo ao tabagismo. Praticamente todos os jovens do planeta sabem que fumar faz mal à saúde, mas isso não os impede de iniciar-se no hábito. A aposta é que, acrescentando emoção na forma de imagens fortes ao conhecimento intelectual dos males do tabagismo, menos jovens começarão a fumar.
Vale a pena pelo menos experimentar. Apesar de carregar nas tintas, esse tipo de propaganda, no fundo, apenas traz informação verdadeira e relevante sobre o hábito de fumar. A partir daí, cabe a cada um decidir se quer ou não correr o risco.


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