São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Até ficar de quatro

SÃO PAULO - Permita-me o leitor um pouco de auto-propaganda para ver se comovo os meus chefes e arranco um aumentozinho, que não está fácil garantir o caviar dos netos.
O leitor da Folha pode reclamar do dólar a R$ 3, mas não tem o direito de se surpreender, ao menos com o componente político da equação que o levou a tal altura.
No dia 7 passado, quando Ciro Gomes apenas começava a disputar com José Serra o segundo lugar, ficou escrito neste mesmo espaço:
"A percepção dos mercados é a de que Serra é o candidato-amigo. Os outros são, por definição, inimigos. Logo, dois "inimigos" juntos no segundo turno é dose para declaração de guerra. Azar nosso."
Pois é, a declaração de guerra, justamente por esse motivo, está estampada nos jornais de ontem, na forma de risco-país, cotação do dólar etc.
Mas, antes de festejar comigo a antecipação, o leitor, exigente como é, deve cobrar: bom, e agora que os dois "inimigos do mercado" parecem consolidar-se no segundo turno?
À primeira vista, os mercados têm duas formas de reação:
1 - Aumentam a aposta contra o Brasil, na expectativa de agravar mais a turbulência econômica e, por meio dela, desestabilizar o presente cenário eleitoral.
Não garante a volta de Serra ao segundo lugar, mas "perdido por perdido, truco".
2 - Trata de cooptar um dos dois "inimigos" para as teses que o mercado considera adequadas. Um pouco desse exercício foi feito na primeira rodada de apostas, e gerou a "Carta ao Povo Brasileiro", em que o PT se compromete com itens que são caros aos mercados.
Há uma variante, que é a de usar a aposta mais forte para colocar de joelhos todos os candidatos, tornando mais fácil a cooptação. No percurso, o país ficará de quatro, mas está se vendo que mercados e países são coisas absolutamente diferentes, não raro incompatíveis.


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