São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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FERNANDO RODRIGUES

O guaraná da Coca-Cola

BRASÍLIA - Estabeleceu-se um círculo vicioso e perverso para José Serra.
Líderes políticos nos Estados não fazem campanha para o tucano com medo de perder votos, pois ele está em baixa nas pesquisas. E Serra não sobe nas pesquisas, entre outras razões, porque quase ninguém o ajuda de fato no interior do país.
Há exemplos em toda parte. Brasília é um caso. O campeão de votos local é o governador Joaquim Roriz (PMDB), supostamente aliado de Serra. É candidato à reeleição. Segundo pesquisas locais, teria cerca de 50% das intenções de voto.
Na última quarta-feira, Roriz colocou cem cabos eleitorais remunerados para gritarem o nome de Serra em frente ao comitê tucano. Foi um ato eleitoralmente inútil. Só serviu para adular Serra.
Essas manifestações "espontâneas" só acontecem quando o candidato está presente. Serra vai embora e desaparecem os seus defensores. Não se vê em Brasília um único cartaz em que o governador Roriz apareça ao lado do tucano.
Com a reeleição quase garantida, como poderia Roriz fazer campanha para Serra, que está na faixa dos 12% a 14%? O governador perderia votos. Assim é a política.
O comando da campanha de Serra repete como um mantra que no horário eleitoral o tucano vai reverter o quadro adverso. Tem sozinho o tempo somado dos adversários. Não é impossível que isso venha a ocorrer, mas nada indica que seja uma certeza absoluta. Muito longe disso.
Propaganda maciça na TV às vezes não adianta. É preciso uma estratégia paralela. Há décadas a Coca-Cola tenta emplacar um guaraná no Brasil. E dá-lhe anúncios na televisão. Nunca deu certo. Agora, um curioso Kuat estaria decolando por conta de venda acoplada ao produto principal. Quer Coca-Cola? Então leve também um Kuat.
Esse é o problema de Serra. Um bom produto, mas sem estratégia correta. Um guaraná da Coca-Cola, mas sem a Coca-Cola para ajudá-lo a entrar na casa das pessoas.


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