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ELIANE CANTANHÊDE
O outro apagão
BRASÍLIA - Atenção para uma
percepção errada: Nelson Jobim
não foi nomeado ministro do apagão aéreo, nem suas responsabilidades são fiscalizar pistas e controle de vôo, acabar com filas em aeroportos e ditar horários de aviões.
É óbvio que a missão urgente do
ministro é recompor a cadeia de comando e tentar dar ordem à bagunça que inferniza a vida de milhares
como nunca antes neste país. Mas o
caro ministro e o distinto público
devem lembrar que ele não assumiu uma área episódica, mas sim o
Ministério da Defesa.
Significa dar forma a um ministério que só na gestão do embaixador
José Viegas (início do primeiro
mandato de Lula) teve alguma
chance de emplacar e ao qual estão
subordinados Aeronáutica, Marinha e Exército, com suas complexidades, traumas e discussões. A mais
candente é sobre a revisão, ou não,
do papel constitucional das Forças
Armadas, num contexto de país
sem vocação belicista e atolado numa grave guerra urbana.
A crise aérea, dramática, tem dez
meses e 350 mortos, enquanto a
violência nas capitais tem décadas,
só piora e mata milhares todos os
anos. Segundo o grupo "Riobodycount", só no Rio foram 1.387 mortos e 868 feridos desde janeiro.
Jobim é advogado, teve destaque
na Constituinte de 1988, foi ministro da Justiça no governo FHC e
presidiu o Supremo Tribunal Federal. Além disso, tem um traço de
personalidade indiscutível: é racional, pragmático. Trata-se da pessoa
certa, no lugar certo, para coordenar uma boa discussão sobre até
onde e em que circunstâncias os
militares, especialmente do Exército, poderão e deverão atuar contra a
violência urbana.
Esse debate é mundial, mas no
Brasil tem sido interditado por barreiras ideológicas e pelos traumas
pós-1964. Se controlado o caos aéreo, será hora de botar o dedo na ferida com coragem e racionalidade.
Jobim é homem para isso.
elianec@uol.com.br
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