São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Haja blindagem

SÃO PAULO - Se eu fosse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, usaria os contatos que o PT tem com a Igreja Católica (pelo menos tinha antes de virar "new PT") e solicitaria o papado para Henrique de Campos Meirelles. Seria a única blindagem realmente definitiva, pelo menos até a morte do titular.
A tentativa de blindar Meirelles alçando-o a ministro, além de presidente do Banco Central, fracassou. Pode até não ser processado, o objetivo enfim da blindagem, mas será alvejado para o resto da vida.
O caso mais recente é daqueles indefensáveis. Usar seguranças e motoristas de um banco (ou de qualquer outra empresa) durante a campanha eleitoral pode até ser legal, mas é escandalosamente imoral.
Primeiro, porque estabelece concorrência desleal com os demais candidatos, que não tinham um banco por trás para financiar seus motoristas e seguranças. Se eu tivesse disputado e perdido a eleição em Goiás, entraria já com recurso judicial.
O segundo fato -e mais escandaloso- é que o deputado Henrique Meirelles ficou devendo uma fatia de seu mandato a uma empresa privada, por contrato devidamente assinado, e não pelo financiamento que muitas empresas dão a partidos políticos (fonte aliás de 9 de cada 10 escândalos no mundo todo).
Digamos que Meirelles tivesse assumido o posto para o qual foi eleito. Digamos que fosse escalado para a CPI do Banestado e que surgisse uma suspeita fundada sobre algum executivo do BankBoston. Como Meirelles votaria se fosse pedida a quebra do sigilo desse executivo?
O curioso é que Meirelles diz que abriu mão do contrato que lhe dava direito a seguranças pagos pelo banco quando assumiu o BC para evitar "conflito de interesses". Quer dizer que deputado, então, pode defender seus interesses ou de seus financiadores, sem conflito?


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