São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2004

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VINICIUS TORRES FREIRE

PT, PSDB e cortiços políticos

SÃO PAULO - Falta uma semana para votarmos e parece que a eleição acabou. Quando faltavam umas três semanas para votarmos, parecia que a eleição não tinha começado. É verdade que a disputa menos irrelevante do ponto de vista político, entre a petista Marta Suplicy e o tucano José Serra, será mais animada. Mas a normalidade democrática, a profusão de candidatos vulgívagos e sua caterva de patranhas não foi acompanhada de manifestação popular mais incisiva ou debate político menos marasmante, para usar termos que Graciliano Ramos gostava de escrever quando tratava de política politiqueira.
Não haverá "onda rosa" ou outra cor nem liderança nova. Os partidos com alguma identidade restante, PSDB e PT, dissolvem suas arestas e os demais confirmam sua vocação de legendas de alta rotatividade ou de cortiço político. O que aprenderemos sobre o país neste pleito caído, como diz José Simão?
O PFL, antes a alegria dos cientistas políticos que gostam de fazer continhas, um exemplo de legenda conservadora com unidade e fidelidade partidária (na era FHC), minguou com a fuga dos primeiros ratos para as bandas dos partidos lulistas. Continua a trincar com o duelo de titanics, ACM e Jorge Bornhausen, e foi quase riscado do mapa das cidades com mais de 200 mil habitantes e capitais. Corre o risco de se tornar de vez um cortiço partidário como o PTB e o PL, talvez um PMDBezinho.
Não houve federalização. O bafejo de recuperação econômica ainda não tocou o povaréu, embora o clima geral tenha melhorado -o efeito geral da economia foi neutro. Mal se falou de Lula nas campanhas, menos ainda de sua política econômica e muito menos de outras políticas (que não existem, de resto). O povo não quis federalizar, também. Haverá dispersão de resultados, nenhuma legenda poderá cantar vitória decisiva.
Em São Paulo, Marta é a candidata dos mais pobres, Serra o dos mais ricos e a classe média é rachada pelos dois. Tanto em São Paulo como no resto do país menos selvagem, PT e PSDB vão tomando conta, aos poucos, do cenário político.


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