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CLÓVIS ROSSI
Os gatos gordos e o futuro
SÃO PAULO - Tornou-se quase lugar-comum dizer que a crise matou
Wall Street, a ruazinha que abriga a
Bolsa de Nova York e, por isso, se
tornou sinônimo de mercados financeiros. No mínimo morreu a
Wall Street tal como conhecida nos
últimos 75 anos, desde que, em
1933, os bancos comerciais foram
separados das empresas financeiras, na esteira da Grande Depressão
dos anos 30.
Ao contrário dos mortos comuns,
em geral transformados em santos
mesmo quando estavam longe disso quando vivos, nem se passa perto
da beatificação da ruazinha mais famosa do mundo.
Veja-se, por exemplo, a queixa de
Robert Reich, um dos raros intelectuais que continuaram pensando
mesmo depois de serem alçados ao
governo (ele foi secretário do Trabalho no primeiro governo Clinton;
hoje leciona políticas públicas em
Berkeley, na Califórnia):
"Eles [o público em geral nos
EUA] vêem os gatos gordos de Wall
Street, que juntaram avidamente
zilhões durante anos, agora extorquirem de fato US$ 8.000 de cada
família para cobrir suas próprias
omissões, malfeitos, ganância e pura estupidez", escreveu para o
"Guardian".
Muito bem, de acordo. Mas façamos também a pergunta que apareceu ontem em outro jornal britânico ("The Daily Telegraph"): "O que
acontecerá se [o pacote Paulson]
não fizer o truque [de salvar Wall
Street]? (...) Não é um pensamento
confortável".
Para aumentar o desconforto, é
bom lembrar que, durante a vida da
agora finada Wall Street, o mundo
cresceu uma barbaridade. Só nos
últimos cinco anos, lembra Norman Gall, diretor-executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, "o PIB per capita
mundial cresceu mais que em qualquer qüinqüênio já registrado".
O crescimento, bem no auge da
"ganância dos gatos gordos", se deu
apesar deles ou eles ajudaram?
crossi@uol.com.br
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