São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Os gatos gordos e o futuro

SÃO PAULO - Tornou-se quase lugar-comum dizer que a crise matou Wall Street, a ruazinha que abriga a Bolsa de Nova York e, por isso, se tornou sinônimo de mercados financeiros. No mínimo morreu a Wall Street tal como conhecida nos últimos 75 anos, desde que, em 1933, os bancos comerciais foram separados das empresas financeiras, na esteira da Grande Depressão dos anos 30.
Ao contrário dos mortos comuns, em geral transformados em santos mesmo quando estavam longe disso quando vivos, nem se passa perto da beatificação da ruazinha mais famosa do mundo. Veja-se, por exemplo, a queixa de Robert Reich, um dos raros intelectuais que continuaram pensando mesmo depois de serem alçados ao governo (ele foi secretário do Trabalho no primeiro governo Clinton; hoje leciona políticas públicas em Berkeley, na Califórnia): "Eles [o público em geral nos EUA] vêem os gatos gordos de Wall Street, que juntaram avidamente zilhões durante anos, agora extorquirem de fato US$ 8.000 de cada família para cobrir suas próprias omissões, malfeitos, ganância e pura estupidez", escreveu para o "Guardian".
Muito bem, de acordo. Mas façamos também a pergunta que apareceu ontem em outro jornal britânico ("The Daily Telegraph"): "O que acontecerá se [o pacote Paulson] não fizer o truque [de salvar Wall Street]? (...) Não é um pensamento confortável".
Para aumentar o desconforto, é bom lembrar que, durante a vida da agora finada Wall Street, o mundo cresceu uma barbaridade. Só nos últimos cinco anos, lembra Norman Gall, diretor-executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, "o PIB per capita mundial cresceu mais que em qualquer qüinqüênio já registrado".
O crescimento, bem no auge da "ganância dos gatos gordos", se deu apesar deles ou eles ajudaram?

crossi@uol.com.br



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