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RUY CASTRO
Novo dono do pedaço
RIO DE JANEIRO - Um diletante
ou dependente químico que queira
se abastecer de droga, faz o quê? Liga para seu fornecedor particular
ou sobe o morro e bate à porta da
boca-de-fumo. E uma quadrilha de
traficantes que queira repor seu estoque, como faz? Se for o carioca
Comando Vermelho, liga para seu
atacadista particular: o paulista
Primeiro Comando da Capital. O
PCC é agora a grande boca-de-fumo que abastece o CV.
Já se suspeitava disso há dois ou
três anos, quando o PCC, para aliviar uma dívida que o CV tinha para
com ele, obrigou os traficantes do
Rio a trabalhar com uma droga da
qual estes sempre quiseram distância: o crack. Foi o primeiro sinal de
que a relação entre os comandos
estava mudando de mão.
Assim como os mercados financeiro, publicitário, editorial, da moda e outros, o mercado da droga
também se mudou do Rio para São
Paulo. Donde, no Rio, só nos resta
torcer para que, agora que é controlado de fora, ele passe a se comportar como em São Paulo.
Em São Paulo, não há guerra entre quadrilhas ou destas com a polícia ou com as milícias -o que reduz
consideravelmente o número de
homicídios por 100 mil habitantes.
As chacinas (21 este ano, até agora)
são discretas e passam quase desapercebidas da população -é raro
uma delas merecer chamada na
primeira página; manchete, nunca.
E, ao contrário de Fernandinho
Beira-Mar, que é notícia até quando pega uma coriza, ninguém sabe
o nome dos chefões do PCC. Isso,
sim, é crime organizado; o Rio, em
comparação, é uma balbúrdia.
Para os traficantes cariocas deve
estar sendo um choque descobrir
que, em lugares como Madureira,
Vigário Geral, Nova Holanda, o Andaraí, a Mangueira e o Borel, a antiga sigla CV, da qual eles tanto se orgulhavam, reduziu-se a um nome
de fantasia, absorvida que foi pelo
verdadeiro dono da holding: o PCC.
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