São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

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RUY CASTRO

Novo dono do pedaço

RIO DE JANEIRO - Um diletante ou dependente químico que queira se abastecer de droga, faz o quê? Liga para seu fornecedor particular ou sobe o morro e bate à porta da boca-de-fumo. E uma quadrilha de traficantes que queira repor seu estoque, como faz? Se for o carioca Comando Vermelho, liga para seu atacadista particular: o paulista Primeiro Comando da Capital. O PCC é agora a grande boca-de-fumo que abastece o CV.
Já se suspeitava disso há dois ou três anos, quando o PCC, para aliviar uma dívida que o CV tinha para com ele, obrigou os traficantes do Rio a trabalhar com uma droga da qual estes sempre quiseram distância: o crack. Foi o primeiro sinal de que a relação entre os comandos estava mudando de mão.
Assim como os mercados financeiro, publicitário, editorial, da moda e outros, o mercado da droga também se mudou do Rio para São Paulo. Donde, no Rio, só nos resta torcer para que, agora que é controlado de fora, ele passe a se comportar como em São Paulo.
Em São Paulo, não há guerra entre quadrilhas ou destas com a polícia ou com as milícias -o que reduz consideravelmente o número de homicídios por 100 mil habitantes. As chacinas (21 este ano, até agora) são discretas e passam quase desapercebidas da população -é raro uma delas merecer chamada na primeira página; manchete, nunca. E, ao contrário de Fernandinho Beira-Mar, que é notícia até quando pega uma coriza, ninguém sabe o nome dos chefões do PCC. Isso, sim, é crime organizado; o Rio, em comparação, é uma balbúrdia.
Para os traficantes cariocas deve estar sendo um choque descobrir que, em lugares como Madureira, Vigário Geral, Nova Holanda, o Andaraí, a Mangueira e o Borel, a antiga sigla CV, da qual eles tanto se orgulhavam, reduziu-se a um nome de fantasia, absorvida que foi pelo verdadeiro dono da holding: o PCC.


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