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CARLOS HEITOR CONY
Quem fiscaliza os fiscais?
RIO DE JANEIRO - A hipocrisia é condenada por todos, mas é nela que se
baseia a sociedade humana, da qual
todos são defensores, menos eu, que
de mau grado pertenço a ela. A consideração pode parecer rabugenta, e o
é, de fato. Mas como reagir à inspeção nuclear que uma comissão veio
fazer no Brasil para ter certeza de que
não estamos produzindo uma bomba atômica?
Comissão equivalente passou um
tempão no Iraque com o mesmo objetivo: fiscalizar a produção de armas
de destruição em massa. Nem por isso deixaram de destruir o Iraque
massivamente.
Há tratados internacionais regulamentando a produção nuclear. Todos fingem acreditar neles, mas todos
sabem que, mais dia menos dia,
quem tiver competência fabricará
sua ogivazinha.
Foi o caso de Israel, da Índia, do Paquistão, da Coréia e, mais cedo ou
mais tarde, da Alemanha e de outros
países, inclusive a Argentina e, por
que não?, o Brasil.
Digamos que a comissão internacional exerça um papel preventivo
para evitar uma crise que dará a cada país o poder de destruir a civilização. Mas esse poder já é detido por
vários países que continuam pesquisando armas letais, mais apocalípticas do que o arsenal de que dispõem.
Quem fiscaliza os Estados Unidos, a
Rússia e a China, que já pertencem
ao clube atômico e trabalham sigilosamente para adquirirem armas que
garantam uma hegemonia incontestável no caso de um conflito real entre as potências que já possuem armas nucleares?
Em 1945, com a explosão em
Hiroshima, os Estados Unidos ficaram com a régua e o compasso para
ditar sua vontade ao mundo. Mas
por pouco tempo. Logo a União Soviética e mais tarde outros países dominaram a mesma tecnologia e ficaram empatados na mesa das negociações.
Para desempatar, cada um desses
países continua investindo feio e forte
na produção de uma nova arma que
tornará obsoleto o arsenal nuclear de
hoje. E quem fiscaliza os fiscais?
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