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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A construção da criança

SÃO PAULO - Como tem sido a lamentável praxe brasileira, a discussão em torno da redução da maioridade penal transformou-se, com raras exceções, em exercício de xingamento do adversário.
Quem é a favor não passa de um "fascista", uma espécie de Herodes dos tempos modernos. Quem é contra passa a engrossar, automaticamente, a lista dos cúmplices de todos os crimes que crianças cometeram desde o início dos tempos.
Sorte que ainda há gente como dona Zilda Arns, coordenadora nacional da Pastoral da Criança, capaz de enxergar as coisas com equilíbrio e prudência. Ela é contra a redução da maioridade penal, mas é a favor de ampliar o tempo máximo de três anos de reclusão em regime fechado hoje previsto para o caso de crianças ou adolescentes que cometem crimes como o assassinato do casal Felipe Caffé/Liana Friedenbach.
Seu argumento: "Três anos, em muitos casos, podem ser absolutamente insuficientes para tratar e preparar os adolescentes com graves distúrbios para a convivência cidadã".
Vê-se, pois, que dona Zilda não está pregando um infanticídio ao defender penas mais severas para crianças/adolescentes criminosos, mas reconhecendo fatos da vida.
A coordenadora da Pastoral, do alto da experiência do atendimento a 1,7 milhão de crianças, ensina também o caminho das pedras para que a discussão se afaste do xingamento do adversário.
Pede a "construção de um tecido social saudável e promissor".
Ótimo. Pena que, com as políticas econômicas que vêm sendo seguidas, não dê nem para começar.
Dona Zilda ensina que tal construção "começa antes do nascer, com um bom pré-natal, parto de qualidade, aleitamento materno exclusivo até seis meses e o complemento até mais de um ano, vacinação, vigilância nutricional, educação infantil (...)".
Alguém aí conhece algo parecido no Brasil (e olhe que essa é a lista inicial apenas)?


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