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CLÓVIS ROSSI
A construção da criança
SÃO PAULO - Como tem sido a lamentável praxe brasileira, a discussão em torno da redução da maioridade penal transformou-se, com raras exceções, em exercício de xingamento do adversário.
Quem é a favor não passa de um
"fascista", uma espécie de Herodes
dos tempos modernos. Quem é contra
passa a engrossar, automaticamente,
a lista dos cúmplices de todos os crimes que crianças cometeram desde o
início dos tempos.
Sorte que ainda há gente como dona Zilda Arns, coordenadora nacional da Pastoral da Criança, capaz de
enxergar as coisas com equilíbrio e
prudência. Ela é contra a redução da
maioridade penal, mas é a favor de
ampliar o tempo máximo de três
anos de reclusão em regime fechado
hoje previsto para o caso de crianças
ou adolescentes que cometem crimes
como o assassinato do casal Felipe
Caffé/Liana Friedenbach.
Seu argumento: "Três anos, em
muitos casos, podem ser absolutamente insuficientes para tratar e preparar os adolescentes com graves distúrbios para a convivência cidadã".
Vê-se, pois, que dona Zilda não está
pregando um infanticídio ao defender penas mais severas para crianças/adolescentes criminosos, mas reconhecendo fatos da vida.
A coordenadora da Pastoral, do alto da experiência do atendimento a
1,7 milhão de crianças, ensina também o caminho das pedras para que
a discussão se afaste do xingamento
do adversário.
Pede a "construção de um tecido
social saudável e promissor".
Ótimo. Pena que, com as políticas
econômicas que vêm sendo seguidas,
não dê nem para começar.
Dona Zilda ensina que tal construção "começa antes do nascer, com
um bom pré-natal, parto de qualidade, aleitamento materno exclusivo
até seis meses e o complemento até
mais de um ano, vacinação, vigilância nutricional, educação infantil
(...)".
Alguém aí conhece algo parecido
no Brasil (e olhe que essa é a lista inicial apenas)?
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