São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

FHC e a academia

RIO DE JANEIRO - A vaga aberta na Academia Brasileira de Letras está criando problemas para alguns acadêmicos e para os candidatos que desejam suceder a Celso Furtado. Rosna-se por aí que FHC teria feito sondagens para entrar naquilo que os parnasianos chamavam de "nobre sodalício".
Não tenho conhecimento de qualquer sondagem do ex-presidente neste sentido -nada demais que tenha havido. É um candidato fortíssimo, mas terá de entrar em bola dividida. Conheço acadêmicos que o estimam e de bom grado votariam nele.
Embora a ABL nada deva ao Estado, tendo vida e economia próprias, elegendo na maioria das vezes candidatos que criticam os governos -inclusive eu, que o fiz e faço no passado e no presente-, a verdade é que FHC foi correto e elegante, pelo menos por ocasião do centenário da casa fundada por Machado de Assis -é o que afirma Nélida Piñon, que era a presidente na ocasião (1997).
Há acadêmicos que não votariam em FHC nem que ele viesse coberto de ouro. Cada qual tem o seu motivo. Merecem respeito, como respeito merecem os que votariam nele.
Já expressei minha opinião no passado e a repito agora. Esperarei que se encerre o prazo das apresentações. Se houver candidato que eu considere escritor no sentido comum da palavra, darei o voto a ele, mesmo que eu não goste dele nem ele de mim.
FHC apresentando-se sem que apareça um escritor essencialmente de "letras", votaria no ex-presidente, em que pesem as críticas que fiz, faço e farei a ele no plano político.
A Academia não é foro para avaliações políticas e ideológicas. Lembro a emoção com que ouvi Evandro Lins e Silva, um dia após ter defendido o José Rainha no júri de Vitória, recitar de cor um poema de Fagundes Varela. Se numa das nossas sessões FHC recitasse de cor, e de improviso, "As Pombas", do Raimundo Corrêa, eu o aplaudiria. Estou lá para isso.


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