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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Violência e
reformas sociais
Na última semana, o Brasil presenciou dois grandes atentados
contra a vida que exigem ação pronta
do governo e da sociedade para apurar os fatos e responsabilizar e punir
os agressores.
O primeiro ato de violência atingiu a
população indígena do povo macuxi
na área demarcada da terra Raposa/
Serra do Sol, em Roraima. Durante a
longa espera pela homologação das
terras, tem havido, como é do domínio público, a invasão progressiva de
fazendeiros, plantadores de arroz.
Na terça-feira, 23/11, foi baleado o
indígena Jocivaldo Constantino por
pistoleiros na aldeia Jawari. Na mesma ocasião, constataram o desaparecimento do indígena Nelson da Silva.
A ação violenta estendeu-se às aldeias
Brilho do Sol e Retiro São José, causando a destruição de casas por tratores e pelo fogo. Foram também arrasadas as plantações. Esse ataque covarde
contra as populações indígenas coincidiu com a visita a Roraima do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que tem agido com discernimento no
sentido de respeitar a Constituição
quanto aos direitos indígenas.
A segunda agressão à vida aconteceu
no Estado de Minas Gerais, no município de Felisburgo. Houve terrível
chacina no acampamento Terra Prometida, ocupado por 200 famílias do
Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra há mais de dois anos. Trata-se de terra devoluta, que, portanto,
pertence ao patrimônio do Estado,
não podendo ser reivindicada por
pretensos proprietários.
No dia 20/11, ao meio-dia, as famílias
foram surpreendidas por um grupo
de 15 pistoleiros que se dirigiram ao
barraco onde estava reunida a coordenação do acampamento. Forte rajada
de balas atingiu os ocupantes. Quatro
trabalhadores foram assassinados,
outro faleceu antes de chegar ao hospital. Há 20 feridos, alguns em estado
grave. Todas as barracas foram incendiadas, deixando as famílias no desamparo, sem comida e sem seus objetos.
Os fatos são evidentemente lamentáveis e exigem atuação imediata do
governo federal e estadual, não só para fazer justiça mas para garantir a decisão de levar adiante as medidas indispensáveis à repartição equitativa
da terra, em especial agilizando o processo de restituição das terras devolutas para efeito de reforma agrária.
Para efetivar o direito das populações indígenas, a justa distribuição da
terra e o acesso ao trabalho, não basta
a opção governamental, que esperamos se realize. Torna-se necessária a
cooperação de todos. Isso exige mudança de mentalidade, tantas vezes relembrada pela Igreja, à luz da fraternidade, própria dos filhos de Deus e que
deve presidir a construção da sociedade justa e solidária.
A pobreza e a miséria que assolam
milhões de brasileiros revelam o
quanto estamos distantes deste ideal.
As reformas sociais básicas são urgentes para que todos tenham condições
dignas de vida e para evitar que as injustiças e desigualdades econômicas e
sociais provoquem mais violências.
Diante dos graves fatos acontecidos
e de outros semelhantes, procuremos
voltar o coração para Deus e rever
nosso comportamento pessoal. Não
podemos nos omitir quando está em
questão a vida de tantos irmãos, a justiça e a paz social. É sempre tempo de
conversão e de esperança.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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