|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AI-5, a-in-da
RUI NOGUEIRA
Brasília - Da lembrança dos 30 anos
do AI-5, revisitado duas semanas
atrás em notícias de todos os tipos, ficou-me na cabeça a frase de encerramento da reportagem do "Fantástico",
pela boca do ex-ministro Jarbas Passarinho.
O ex-ministro emprestou a voz à reportagem duas vezes. Primeiro na gravação da reunião em que se aprovou o
Ato Institucional e pregava que, naquele "momento" (dezembro de 68), se
mandassem "às favas todos os escrúpulos de consciência". Depois, o tal encerramento em que, a jeito de boutade, Passarinho pergunta aos milhões
de telespectadores da Globo se o perigo comunista, na época, não justificou
o AI-5.
Nós, jornalistas, não vimos a verdadeira pauta oferecida pelo ex-ministro. A questão suscitada pelo AI-5, três
décadas depois, é saber se o tal do perigo comunista existia e, se existia, se
servia para justificar alguma coisa. A
democracia precisa de "Passarinhos"
protetores ou gaviões da constitucionalidade?
Como nem nos 30 anos do AI-5
aproveitamos para refletir sobre isso,
este é um país povoado de democratas
de circunstância e jornais de pautas
fáceis. Passarinho, como fica claro na
gravação da reunião do AI-5, acha
que há momentos para mandar às favas os escrúpulos de consciência. E, de
forma matreira, 30 anos depois, faz só
a pergunta. Porque a resposta, baseada em fatos, e não em suposições históricas, é-lhe desfavorável.
E a pergunta, com ou sem a justificativa psicodélica do comunismo, continua a ser: os homens do AI-5 e os da
cena política atual aprenderam alguma coisa ou estariam dispostos, em
um novo "momento", a projetar o seu
ego singular como receituário divino
para os males da sociedade?
Pelo menos três grupamentos militares (do Rio, São Paulo e Minas) estão
recebendo treinamento especializado
em distúrbios urbanos. Depois que
Itamar usou os militares para a Operação Rio e FHC mandou a tropa assumir refinarias e controlar greves de
PMs, o Exército passou a achar que
pode ser vítima do amadorismo.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|