São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 1998

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AI-5, a-in-da

RUI NOGUEIRA

Brasília - Da lembrança dos 30 anos do AI-5, revisitado duas semanas atrás em notícias de todos os tipos, ficou-me na cabeça a frase de encerramento da reportagem do "Fantástico", pela boca do ex-ministro Jarbas Passarinho.
O ex-ministro emprestou a voz à reportagem duas vezes. Primeiro na gravação da reunião em que se aprovou o Ato Institucional e pregava que, naquele "momento" (dezembro de 68), se mandassem "às favas todos os escrúpulos de consciência". Depois, o tal encerramento em que, a jeito de boutade, Passarinho pergunta aos milhões de telespectadores da Globo se o perigo comunista, na época, não justificou o AI-5.
Nós, jornalistas, não vimos a verdadeira pauta oferecida pelo ex-ministro. A questão suscitada pelo AI-5, três décadas depois, é saber se o tal do perigo comunista existia e, se existia, se servia para justificar alguma coisa. A democracia precisa de "Passarinhos" protetores ou gaviões da constitucionalidade?
Como nem nos 30 anos do AI-5 aproveitamos para refletir sobre isso, este é um país povoado de democratas de circunstância e jornais de pautas fáceis. Passarinho, como fica claro na gravação da reunião do AI-5, acha que há momentos para mandar às favas os escrúpulos de consciência. E, de forma matreira, 30 anos depois, faz só a pergunta. Porque a resposta, baseada em fatos, e não em suposições históricas, é-lhe desfavorável.
E a pergunta, com ou sem a justificativa psicodélica do comunismo, continua a ser: os homens do AI-5 e os da cena política atual aprenderam alguma coisa ou estariam dispostos, em um novo "momento", a projetar o seu ego singular como receituário divino para os males da sociedade?

Pelo menos três grupamentos militares (do Rio, São Paulo e Minas) estão recebendo treinamento especializado em distúrbios urbanos. Depois que Itamar usou os militares para a Operação Rio e FHC mandou a tropa assumir refinarias e controlar greves de PMs, o Exército passou a achar que pode ser vítima do amadorismo.



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