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PLÍNIO FRAGA
Afeto que se encerra
RIO DE JANEIRO - O Fórum Social Mundial perdeu a batalha para
o Fórum Econômico Mundial. Perdeu não só a batalha econômica,
previsível, mas principalmente a de
vocalização de ideários reformadores, revolucionários e/ou igualitários. Na linguagem dos vencedores,
perdeu mercados, consumidores,
fragilizou a marca.
O principal fracasso do Fórum
Social foi afetivo. Definham as hordas jovens que se dispunham a hastear a bandeira de que outro mundo
é possível, entoando aquele discurso que tem tanto de contestador, ingênuo e sonhador quanto de irreal.
Na Bolsa de apostas de Londres
deve ter havido aqueles que lançaram a sorte para dizer se venceria o
espírito de Davos ou o de Porto Alegre. Não deu zebra.
É banalmente engraçado que
duas cidades meio esquecidas pela
história -ou por aqueles que fazem
a história- tenham se tornado símbolos do embate entre a globalização mercadológica e a mundialização solidária.
Davos é de uma tristeza gélida como suas montanhas, e seus personagens são sérios como os leitores
de Thomas Mann. Porto Alegre traz
desde o nome o encantamento e os
sorrisos daqueles jovens que acamparam nas margens do Guaíba e
cantavam Fito Paez: "Ya sé, no te
hace gracia este país".
Porto Alegre foi parar nas páginas dos jornais internacionais como exemplo de cidade-nicho das
esquerdas. O Fórum Social se foi, os
petistas se foram, e a esperança não
se foi totalmente porque é em Porto
Alegre que vive Alexandre Pato e
seu futebol -que é coisa nossa, como mulatas, cachaça e clichês de
país do futuro e de gente cordial.
Em Nairóbi, os participantes do
Fórum Social Mundial decidiram
que o protesto antiglobalização
passa a ser descentralizado. Como
se fosse um policial, a história gritou: dispersar, dispersar!
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