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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A aposta no que fracassou

SÃO PAULO - Lembra-se da expressão "década perdida", criada para designar os anos 80, a partir dos quais estancou o crescimento da economia brasileira, que vinha sendo o maior do mundo?
Sabe quanto, na média anual, cresceu a economia na "década perdida"? De acordo com os dados do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), cresceu 1,66%.
Sabe quanto o Brasil cresceu na meia década que vai de 1998 a 2002, ou seja, no período que, grosso modo, corresponde ao segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso? Menos que na "década perdida": 1,63%, de acordo com os dados oficiais.
Qual foi, em linhas gerais, a política econômica aplicada durante essa "meia década perdida"? Dólar flutuante (e hipervalorizado na maior parte do tempo a partir do colapso do real em janeiro de 1999). Superávits fiscais (que não haviam sido a regra no primeiro período FHC). Metas de inflação. Juros sistematicamente elevados -entre os maiores do mundo, ao menos em termos nominais.
É só somar um mais dois e chegar à implacável conclusão de que esse tipo de política ou é um baita fracasso ou, para colocar a coisa de forma piedosa, é incapaz de produzir crescimento econômico (e, recentemente, até de evitar o galope da inflação).
É desnecessário dizer que baixo (ou nenhum) crescimento econômico é pai e mãe de desemprego elevado, de queda na renda do assalariado etc., números que também vieram a público nos dias recentes.
Bom, a esta altura, todo mundo está esfregando as mãos de satisfação, porque o eleitorado, em outubro, preferiu escolher a mudança. Pena que a mudança não esteja visível.
Dólar flutuante, superávits fiscais ainda mais elevados, juros ainda mais salgados, metas de inflação cada vez mais relaxadas. Essa é a mudança? Ou é mais do mesmo?
Por que devo acreditar que o que não deu certo entre 1998 e 2002 dará certo agora?


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