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CLÓVIS ROSSI
A aposta no que fracassou
SÃO PAULO - Lembra-se da expressão "década perdida", criada para
designar os anos 80, a partir dos
quais estancou o crescimento da economia brasileira, que vinha sendo o
maior do mundo?
Sabe quanto, na média anual, cresceu a economia na "década perdida"? De acordo com os dados do Ipea
(Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas), cresceu 1,66%.
Sabe quanto o Brasil cresceu na
meia década que vai de 1998 a 2002,
ou seja, no período que, grosso modo,
corresponde ao segundo mandato de
Fernando Henrique Cardoso? Menos
que na "década perdida": 1,63%, de
acordo com os dados oficiais.
Qual foi, em linhas gerais, a política
econômica aplicada durante essa
"meia década perdida"? Dólar flutuante (e hipervalorizado na maior
parte do tempo a partir do colapso do
real em janeiro de 1999). Superávits
fiscais (que não haviam sido a regra
no primeiro período FHC). Metas de
inflação. Juros sistematicamente elevados -entre os maiores do mundo,
ao menos em termos nominais.
É só somar um mais dois e chegar à
implacável conclusão de que esse tipo
de política ou é um baita fracasso ou,
para colocar a coisa de forma piedosa, é incapaz de produzir crescimento
econômico (e, recentemente, até de
evitar o galope da inflação).
É desnecessário dizer que baixo (ou
nenhum) crescimento econômico é
pai e mãe de desemprego elevado, de
queda na renda do assalariado etc.,
números que também vieram a público nos dias recentes.
Bom, a esta altura, todo mundo está esfregando as mãos de satisfação,
porque o eleitorado, em outubro, preferiu escolher a mudança. Pena que a
mudança não esteja visível.
Dólar flutuante, superávits fiscais
ainda mais elevados, juros ainda
mais salgados, metas de inflação cada vez mais relaxadas. Essa é a mudança? Ou é mais do mesmo?
Por que devo acreditar que o que
não deu certo entre 1998 e 2002 dará
certo agora?
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