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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Matar e morrer?

BRASÍLIA - O Estado brasileiro está perdendo a guerra para um sujeito chamado Fernandinho Beira-Mar, que, de uma cadeia de segurança máxima, fecha o comércio, explode bombas, incendeia ônibus e determina o dia de uma cidade inteira. Uma das principais do país e, dizem, das mais lindas do mundo.
Enquanto Planalto, Justiça e governadores seguiam o roteiro do empurra-empurra o Fernandinho, o prefeito Cesar Maia defendia "matar quem tivesse de matar", e Josias Quintal, o secretário da Segurança de Rosinha, ou de Garotinho, ou de Fernandinho (já não se sabe mais quem manda), fazia eco: "Se alguém tiver de morrer, que morra". Uau!
Se até pena de morte disfarçada se pode discutir contra a guerra civil no Rio, por que não recuperar o debate tão intenso da Constituinte de 88 sobre o uso das Forças Armadas no combate ao crime organizado?
Naquela época, eu mesma integrava o coro contrário ao uso de Exército, Marinha e Aeronáutica em atividades policiais -com o defunto e os traumas da "Revolução de 64" ainda quentes. Agora, o país é outro, as Forças Armadas são profissionais e, principalmente, a violência está fora de controle.
O ministro da Defesa, embaixador José Viegas, estava por acaso no Rio na terça-feira, dia do colapso, e comentou por telefone que as Forças Armadas não tinham nada o que fazer: "É um caso de polícia". Será?
Se for assim, não haverá presídios no DF, no Acre, em São Paulo ou onde quer que seja para abrigar o poder de Beira-Mar e, quando ele morrer (como evidentemente desejam Maia, Quintal e, provavelmente, boa parte da opinião pública), o dos seus sucessores sem fim.
A violência e a crise de governabilidade do Rio podem ser tudo, mas uma coisa deixaram de ser há muito tempo: um caso só de polícia.


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