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ELIANE CANTANHÊDE
Matar e morrer?
BRASÍLIA - O Estado brasileiro está
perdendo a guerra para um sujeito
chamado Fernandinho Beira-Mar,
que, de uma cadeia de segurança
máxima, fecha o comércio, explode
bombas, incendeia ônibus e determina o dia de uma cidade inteira. Uma
das principais do país e, dizem, das
mais lindas do mundo.
Enquanto Planalto, Justiça e governadores seguiam o roteiro do empurra-empurra o Fernandinho, o prefeito Cesar Maia defendia "matar
quem tivesse de matar", e Josias
Quintal, o secretário da Segurança de
Rosinha, ou de Garotinho, ou de Fernandinho (já não se sabe mais quem
manda), fazia eco: "Se alguém tiver
de morrer, que morra". Uau!
Se até pena de morte disfarçada se
pode discutir contra a guerra civil no
Rio, por que não recuperar o debate
tão intenso da Constituinte de 88 sobre o uso das Forças Armadas no
combate ao crime organizado?
Naquela época, eu mesma integrava o coro contrário ao uso de Exército, Marinha e Aeronáutica em atividades policiais -com o defunto e os
traumas da "Revolução de 64" ainda
quentes. Agora, o país é outro, as Forças Armadas são profissionais e,
principalmente, a violência está fora
de controle.
O ministro da Defesa, embaixador
José Viegas, estava por acaso no Rio
na terça-feira, dia do colapso, e comentou por telefone que as Forças
Armadas não tinham nada o que fazer: "É um caso de polícia". Será?
Se for assim, não haverá presídios
no DF, no Acre, em São Paulo ou onde quer que seja para abrigar o poder
de Beira-Mar e, quando ele morrer
(como evidentemente desejam Maia,
Quintal e, provavelmente, boa parte
da opinião pública), o dos seus sucessores sem fim.
A violência e a crise de governabilidade do Rio podem ser tudo, mas
uma coisa deixaram de ser há muito
tempo: um caso só de polícia.
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