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MELCHIADES FILHO
Divisão intermediária
BRASÍLIA - Falam que o presidente se regozija da ligação direta
que estabeleceu com os eleitores,
que se julga maior do que o PT, que
não aceita os partidos como legítimos representantes da população,
que a esse menosprezo se deve o
embaço da reforma ministerial.
Dizem que ele nunca deixou de
ver o Congresso como "os 300 picaretas", que por isso não se engajou
em grandes projetos legislativos,
recorreu à avalanche de medidas
provisórias e mensalões e instituiu
com o Parlamento uma relação tão
unilateral que até a bancada de seu
partido acabou se amotinando.
Afirmam que Lula não reconhece
o papel mediador da imprensa, que
ele, dependendo da conveniência,
ora a rebaixa ("foi ignorada pelas
urnas"), ora a mitifica ("manipulou
o país" com a foto do dinheiro-não-se-sabe-de-onde-veio), daí continuar negando entrevistas.
Alarmam-se com o governo que
se diz democrata, mas que não titubeia antes de rejeitar os clamores
públicos cheios de emoção (só valem se interessarem a seu plano de
poder) ou de apontar os limites da
"representação política tradicional". Alertam para a idéia de "radicalização democrática" que nasce
com fronteira definida: os que exercem a "cidadania ativa" (?).
Reclamam que o Bolsa Família é
dinheiro na veia do eleitorado, para
usar a metáfora da Casa Civil.
Mas ainda não repararam na arapuca armada pelo PAC, o pacote
que carimba toda obra com o selo
federal, que acaba com o reparte de
dividendos políticos, que enterra o
costume do brasileiro de achar bom
o prefeito (governador) que arranca
verbas e traz o governador (presidente) para a inauguração.
Talvez por isso o Planalto não tenha esquentado a cabeça com a largada lenta do pacote de aceleração.
Meia dúzia ou uma dúzia de obras,
tanto faz. O presidente cortará a fita
de cada uma delas e poderá dizer
que o governo dele é bom -com ênfase no "dele", como de hábito.
mfilho@folhasp.com.br
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