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CLÓVIS ROSSI
Guerra faz mal à inteligência
SÃO PAULO - A guerra não faz apenas da verdade uma de suas vítimas.
Mata também a argumentação inteligente, em especial de parte de autoridades diretamente envolvidas.
A demonstração está dada pelo artigo de Condoleezza Rice, a assessora
de Segurança Nacional do governo
Bush, ontem publicado pela Folha.
Trecho: "Para colocarmos a situação em perspectiva, as populações
dos países da coalizão atingem 1,23
bilhão de pessoas, com um PIB (Produto Interno Bruto) de US$ 22 trilhões. São países de todos os continentes do planeta, representando todas as principais raças, religiões e etnias do mundo".
Essa moça pensa que somos todos
idiotas? Para realmente colocar as
coisas em perspectiva:
1 - Se os países que apóiam a coalizão que ataca o Iraque são mesmo
50, como ela diz, ainda assim significa que quase três quartos dos 191 países-membros da ONU estão fora.
2 - O fato de que os 50 países somam 1,23 bilhão de habitantes esconde o principal: boa parte desses habitantes é contra a guerra. Basta ver as
pesquisas mais recentes nos dois países líderes da coalizão (EUA e Reino
Unido). No primeiro, 20% são contra
e, no segundo, quase a metade.
Portanto é um sofisma burro supor
que o número de habitantes defina
uma maioria a favor da guerra.
Além disso, Rice omite, convenientemente, que a China é contra a guerra e, com seu quase 1,3 bilhão de habitantes, já desequilibraria a balança
se fosse possível usar esse argumento
estúpido para demonstrar o quer
quer seja.
3 - Por fim, as principais raças, religiões e etnias do mundo fornecem
participantes das manifestações contra a guerra, o que até as TVs norte-americanas são obrigadas a mostrar,
apesar da cobertura vergonhosa que
estão fazendo da invasão.
Se a assessoria em segurança nacional que Condoleezza Rice dá ao presidente Bush tem a mesma qualidade
de seus argumentos, sai de baixo.
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