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São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Conversa fiada e fora de foco

SÃO PAULO - Está fora de foco esse debate da focalização do gasto público. Marcos Lisboa virou bode expiatório da esquerda, logo ele, que não mudou suas idéias só porque está no poder. Lisboa sempre foi adepto do "tucanismo de direita", políticas econômicas e sociais típicas de economistas e cientistas sociais da FGV e da PUC do Rio: mercadismo mais ou menos radical e focalização.
Discute-se focalização ou isso é crítica disfarçada de intelectuais de esquerda ao programa de Antonio Palocci, de quem Lisboa é assessor?
E por que não discutiam focalização antes? Era o programa de FHC, está no Plano Plurianual de 1995. Divertido é que José Serra, batido por Lula, tinha horror de focalização, em especial do economista Ricardo Paes de Barros, babalorixá da focalização, e do pessoal do Ipea, que há anos não fala de outra coisa.
Enfim, aproveita-se a patada de Maria da Conceição Tavares em Lisboa para se fazer uma crítica ignara da política econômica. "Todo mundo importante" sabe que o problema é o déficit externo, não o déficit público, diz-se. Que é isso?! Se o déficit público cresce, cedo ou tarde teremos mais déficit externo ou inflação, tudo o mais constante.
Para crescer, o país tem de cortar o déficit público até que cresçam o comércio externo, a exportação e o investimento. O problema não é o corte de gastos, mas sim Lula até agora não ter política de comércio exterior ou de mercado de capitais.
A defesa da focalização em si é ideológica, conversa de quem quer privatizar o serviço público. Com focalização, não teríamos universidade e pesquisa públicas (quase toda a ciência nacional), talvez nem indústria, embora a falta de alguma focalização tenha produzido analfabetismo e, por vias tortas, inflação.
Claro que há muito subsídio para a classe média e a indústria que podem ser canalizados, focalizados, para os pobres. Mas pode ser útil subsidiar certos setores da economia. Enfim, o que fazer dos fundos públicos depende de um plano concatenado de política econômica e gasto do governo, o que Lula não tem. Esse é o debate.


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