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VINICIUS TORRES FREIRE
Conversa fiada e fora de foco
SÃO PAULO - Está fora de foco esse debate da focalização do gasto público. Marcos Lisboa virou bode expiatório da esquerda, logo ele, que não
mudou suas idéias só porque está no
poder. Lisboa sempre foi adepto do
"tucanismo de direita", políticas econômicas e sociais típicas de economistas e cientistas sociais da FGV e
da PUC do Rio: mercadismo mais ou
menos radical e focalização.
Discute-se focalização ou isso é crítica disfarçada de intelectuais de esquerda ao programa de Antonio Palocci, de quem Lisboa é assessor?
E por que não discutiam focalização antes? Era o programa de FHC,
está no Plano Plurianual de 1995. Divertido é que José Serra, batido por
Lula, tinha horror de focalização, em
especial do economista Ricardo Paes
de Barros, babalorixá da focalização,
e do pessoal do Ipea, que há anos não
fala de outra coisa.
Enfim, aproveita-se a patada de
Maria da Conceição Tavares em Lisboa para se fazer uma crítica ignara
da política econômica. "Todo mundo
importante" sabe que o problema é o
déficit externo, não o déficit público,
diz-se. Que é isso?! Se o déficit público
cresce, cedo ou tarde teremos mais
déficit externo ou inflação, tudo o
mais constante.
Para crescer, o país tem de cortar o
déficit público até que cresçam o comércio externo, a exportação e o investimento. O problema não é o corte
de gastos, mas sim Lula até agora
não ter política de comércio exterior
ou de mercado de capitais.
A defesa da focalização em si é
ideológica, conversa de quem quer
privatizar o serviço público. Com focalização, não teríamos universidade
e pesquisa públicas (quase toda a
ciência nacional), talvez nem indústria, embora a falta de alguma focalização tenha produzido analfabetismo e, por vias tortas, inflação.
Claro que há muito subsídio para a
classe média e a indústria que podem
ser canalizados, focalizados, para os
pobres. Mas pode ser útil subsidiar
certos setores da economia. Enfim, o
que fazer dos fundos públicos depende de um plano concatenado de política econômica e gasto do governo, o
que Lula não tem. Esse é o debate.
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