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CARLOS HEITOR CONY
De onde vem a violência
RIO DE JANEIRO - Crônica da semana passada motivou alguns e-mails
de cariocas que expressaram o mesmo espanto diante das ruas desertas
durante a noite, a decantada noite
carioca que, não faz muito tempo,
era o símbolo da doce vida e do objeto de desejo de todos os brasileiros.
De nada adiante evitar as ruas.
Aqui na Lagoa, em uma semana, assaltaram três prédios relativamente
modestos, limparam cinco ou seis
apartamentos em cada um deles, fizeram vítimas e reduziram a zero a
chamada "qualidade de vida" de um
bairro que, também não faz muito,
foi considerada a mais alta do Brasil.
Apesar de tudo, continuo achando
de um simplismo quase cínico descarregar a culpa da atual situação
nos governos estaduais, o de agora e o
dos últimos anos.
A violência que assola a ex-capital
do país, sobretudo nos dias que correm, tem sua origem no governo federal, não apenas no de hoje, que é
recente, mas nos anteriores, de meados do século passado para cá.
Noventa por cento dos casos de violência urbana estão relacionados ao
tráfico de drogas. Drogas, que com
exceção da maconha, que pode ser
cultivada num apartamento de
quarto-e-sala, são basicamente importadas, algumas delas beneficiadas
em laboratórios de fundo de quintal,
não de todo clandestinos.
As armas, tirante o apelo primário
da faca e da gilete, são também importadas. Todos sabemos que o arsenal do crime é mais avançado tecnologicamente que o das polícias estaduais e até mesmo que o das Forças
Armadas. Como entram em território nacional, a não ser pelos inúmeros canais do contrabando, cuja repressão é tarefa da Polícia Federal?
E tem mais: o dinheiro que rola na
mão e na contramão do negócio de
drogas e armas nunca é detectado pela Receita Federal. Se um contribuinte esquece de declarar ao fisco que ganhou R$ 200 num joguinho de biriba,
tem seu imposto glosado. E o mundão de dólares que alimenta o crime
organizado, por onde passa, de onde
vem, para quem vai?
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