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São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

De onde vem a violência

RIO DE JANEIRO - Crônica da semana passada motivou alguns e-mails de cariocas que expressaram o mesmo espanto diante das ruas desertas durante a noite, a decantada noite carioca que, não faz muito tempo, era o símbolo da doce vida e do objeto de desejo de todos os brasileiros.
De nada adiante evitar as ruas. Aqui na Lagoa, em uma semana, assaltaram três prédios relativamente modestos, limparam cinco ou seis apartamentos em cada um deles, fizeram vítimas e reduziram a zero a chamada "qualidade de vida" de um bairro que, também não faz muito, foi considerada a mais alta do Brasil.
Apesar de tudo, continuo achando de um simplismo quase cínico descarregar a culpa da atual situação nos governos estaduais, o de agora e o dos últimos anos.
A violência que assola a ex-capital do país, sobretudo nos dias que correm, tem sua origem no governo federal, não apenas no de hoje, que é recente, mas nos anteriores, de meados do século passado para cá.
Noventa por cento dos casos de violência urbana estão relacionados ao tráfico de drogas. Drogas, que com exceção da maconha, que pode ser cultivada num apartamento de quarto-e-sala, são basicamente importadas, algumas delas beneficiadas em laboratórios de fundo de quintal, não de todo clandestinos.
As armas, tirante o apelo primário da faca e da gilete, são também importadas. Todos sabemos que o arsenal do crime é mais avançado tecnologicamente que o das polícias estaduais e até mesmo que o das Forças Armadas. Como entram em território nacional, a não ser pelos inúmeros canais do contrabando, cuja repressão é tarefa da Polícia Federal?
E tem mais: o dinheiro que rola na mão e na contramão do negócio de drogas e armas nunca é detectado pela Receita Federal. Se um contribuinte esquece de declarar ao fisco que ganhou R$ 200 num joguinho de biriba, tem seu imposto glosado. E o mundão de dólares que alimenta o crime organizado, por onde passa, de onde vem, para quem vai?


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