São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2004

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DEMOCRACIA NA CHINA

Embora pareça lamentável, não é surpreendente a decisão do governo chinês de vetar a realização de eleições diretas em Hong Kong. Pequim segue apostando em sua versão da "abertura lenta, gradual e segura". Está disposta a fazer concessões aos movimentos pró-democracia, desde que não veja risco de perder o controle.
Assim, se, de um lado, o governo central comunista proíbe Hong Kong de promover mudanças na legislação que permitiriam a eleição direta de um governador em 2007, de outro, em julho do ano passado, após uma série de manifestações, voltou atrás na decisão de introduzir na Província uma draconiana lei de segurança nacional.
É o ritmo chinês. Cabe certamente ao Ocidente pressionar por reformas. Quanto mais democracia, e quanto antes, melhor. Reconhecer esse axioma não impede que se dê certa razão ao ministro das Relações Externas chinês, Li Zhaoxing, quando se queixa de que Estados Unidos e Reino Unido se utilizam de critérios desiguais para julgar a China.
Como lembrou o chanceler, não sem uma ponta de ironia, Hong Kong jamais se notabilizou por ser uma democracia durante os 156 anos em que permaneceu sob domínio britânico. A ilha só gozou de relativas liberdades por uns poucos anos nas décadas de 40 e de 90.
A questão fundamental é que, à medida que a China amplia suas relações com o resto do mundo, mais cobranças sofrerá para implementar reformas democráticas -e não apenas em Hong Kong. No mesmo sentido, a adoção de políticas capitalistas tende a introduzir na sociedade chinesa novas diferenciações, demandas e conflitos, que acabarão por gerar pressões em busca de espaços institucionais para se expressar.
É evidente por si só a complexidade da implantação de um regime democrático num país com as características demográficas, históricas e culturais da China -mas isso só enfatiza o vulto e a importância do desafio.


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