São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

O ataque dos governadores

BRASÍLIA - Antes de tomar posse, o presidente Lula cansou de prometer várias e freqüentes reuniões com os governadores de Estado.
Ao ouvir o anúncio de Lula, o então ministro da Fazenda, Pedro Malan, deu um conselho amigável ao seu sucessor, Antonio Palocci: "Evite isso. É impossível entrar numa reunião dessas e não sair perdendo".
Quase na mesma época, FHC também ofereceu uma recomendação a Lula: não faça muitas reuniões com o ministério todo nem com todos os governadores. Esses encontros são improdutivos e o governo sempre sai perdendo, pois a lista de reivindicações tende a ser infinita.
Custou, mas aparentemente o governo Lula acabou concluindo que os conselhos tucanos, nesse caso, estavam certos. Tanto que o Planalto preferiu não receber os governadores anteontem, quando eles desembarcaram em Brasília para um novo ataque especulativo ao Tesouro Nacional. Houve atuação nos bastidores. Desidratou-se a reunião. O sucesso não foi total, mas abortou-se uma hecatombe de proporções incertas se o encontro corresse solto.
Ainda assim, um problema não está totalmente debelado: as dívidas estaduais com a União.
É possível que alguns governadores entrem na Justiça para obter um recálculo dos seus pagamentos. A última vez que um governador quis parar de pagar foi em 1999 -com Itamar Franco protagonizando o episódio. Criou-se um pandemônio. Os indicadores econômicos e financeiros pioraram. Foram 30 ou 40 dias de turbulência. O governo ficou praticamente imobilizado.
Na atual conjuntura, a governadora do Rio, Rosinha Matheus, não descarta uma ação no Supremo Tribunal Federal para tentar refazer os cálculos de seus pagamentos.
Há vários governadores em situação semelhante à de Rosinha. Muita turbulência virá. Lula parece ter adotado o conselho tucano de fazer menos reuniões, mas é difícil sair dessa sem perder alguma coisa.


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