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CARLOS HEITOR CONY
Aqui e agora
RIO DE JANEIRO - Não dá para entender. Poucas vezes na história universal, um homem realmente do povo chega ao poder de forma limpa,
insofismável, com o apoio explícito
da maioria dos cidadãos e com o respeito obsequioso dos que não votaram nele.
No caso brasileiro, nossos dirigentes
sempre saíram de camadas sociais
privilegiadas e, nos pouquíssimos casos em que tivemos um presidente
nascido na pobreza, como JK e Sarney, ao serem eleitos, já pertenciam
de uma forma ou de outra à elite dominante.
Dificilmente teríamos na oferta
eleitoral um candidato com a biografia de Lula, pau-de-arara, operário
de carteirinha, homem dotado de fabulosa intuição e com um conhecimento dos problemas nacionais adquirido de baixo para cima, cumprindo um aprendizado político na
própria carne, sem a necessidade de
títulos e diplomas.
Houve poucos casos assim ao longo
do tempo, e a citação de Lincoln talvez seja a mais obrigatória. O lenhador Abraham Lincoln tornou-se um
estadista. Um dos pais da pátria, com
lugar garantido no panteão da história.
Por que Lula não está dando certo?
Na semana passada, comentei que
Lula não é incompetente, não é corrupto e tem a melhor das intenções
de fazer o melhor governo possível.
Quem cruzou o Brasil tantas vezes,
de alto a baixo, sentindo o cheiro e o
aperto de mão de homens marginalizados ao longo de 500 e tantos anos?
Quem conhece a língua do povo
melhor do que ele? Quem chegou ao
poder cercado de tanta e tamanha esperança? Não precisou apelar para a
liturgia de uma revolução, de um golpe de Estado. É evidente que teria de
assumir compromissos discutíveis
para compor um cenário de governabilidade -e, de certa forma, conseguiu isso, sem perda considerável de
substância humana e política.
Um homem do povo chegou lá. E o
lá nunca esteve tão longe do aqui e
agora.
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