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RUY CASTRO
Emoções assassinas
RIO DE JANEIRO - Vejo pouco
televisão e menos ainda comerciais.
Mas, sempre que um desses me pega desprevenido, as imagens contêm uma das três alternativas: carro
em alta velocidade, garotas de biquíni numa praia de estúdio ou jovens com jeito e fala de sorvete na
testa. O produto a ser vendido pode
variar: cerveja, refrigerante, banco,
celular ou gasolina. O importante é
que não tenha a ver com o que está
sendo mostrado. É raro, mas, às vezes, um comercial estrelado por um
carro em alta velocidade se propõe
a vender um carro, não uma geladeira das Casas da Banha.
Não por acaso, há um desses comerciais na praça. Depois de mostrar o herói num barco ou num furacão, para dizer que ele gosta de
emoções violentas, transfere-o para um carro novo que dispara por
um túnel, num pega noturno com
outros dois, a 300 km por hora. Eu
sei, é um truque, e talvez seja impossível correr tanto dentro de um
túnel. Exceto se isso for um privilégio do carro em questão. O comercial não explica se o pega deve ser
combinado com os outros motoristas que só querem chegar inteiros
em casa.
Atendendo a denúncias de um
deputado e de uma vereadora cariocas, o Conar, órgão que regula a publicidade no país, acaba de tirar essa
campanha do ar. Mas não é uma decisão final e nada impede que ela
volte. Daí, e até que alguma coisa se
resolva, a campanha já terá cumprido seu papel e saído das telas. Às famílias, restará contar os cadáveres
das ruas e das estradas provocados
por este comercial e por outros que
incitam a iguais emoções.
Aliás, essa conta acaba de ser feita. Morrem 35 mil pessoas por ano
no trânsito brasileiro. As causas podem ser álcool, drogas, falta de cinto de segurança ou buraco na pista.
Mas, em nenhuma dessas mortes, o
carro assassino estava correndo de
menos.
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