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RUY CASTRO
Penetra na passeata
RIO DE JANEIRO - Há dois anos,
quando o fotógrafo Evandro Teixeira lançou seu livro "Destinos -
1968-2008", de fotos da Passeata
dos Cem Mil, no Rio, contra a ditadura, uma diversão dos veteranos
daquele tempo foi a de se procurar
em meio à massa humana nas lentes de Evandro.
Não era impossível à pessoa se
achar. Bastava se lembrar de perto
de qual faixa ou grupo (artistas, intelectuais, padres, bancários, estudantes) havia marchado na passeata e, com sorte, se localizaria de
jeans, camisa da Marinha, minissaia xadrez ou terninho da Ducal na
superampliação dramaticamente
granulada, quase "flou". Só uma
coisa era obrigatória para sair na foto: ter estado lá.
Naquela tarde de 26 de junho de
1968, a jovem Dilma Rousseff estava em Belo Horizonte, em alguma
assembleia estudantil ou, quem sabe, confiscando rolhas num armazém para atirar sob as patas dos cavalos da PM numa manifestação
"para valer" -não num passeio
consentido e sem risco pela avenida, como o chamou na época a esquerda mais cascuda, de que ela
fazia parte.
Ou seja, Dilma não estava na Passeata dos Cem Mil, nem de mãos
dadas com as atrizes Tonia Carrero,
Eva Wilma, Odette Lara e Ruth Escobar, como seu site oficial insinuou ao intercalar um close de Norma Bengell na passeata entre duas
fotos da candidata -tudo isso sob o
título "Minha Vida". Como se a mulher de cabelo curtinho e rosto decidido fosse Dilma.
Bem, não era. Era Norma Bengell, de mãos dadas com as colegas e
com suas pernas longas e douradas
saindo do vestido também curto,
como mostra a foto completa. O site
de Dilma quis ser mais esperto que
o gato e, ao se ver pego na mentira,
tentou passar a bola para quem "interpretou a montagem equivocadamente". Mas não há equívoco. Há
ignorância ou má-fé. Talvez ambas.
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