São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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ELITE UNIVERSITÁRIA

A grande expansão de vagas na rede superior de ensino registrada nos anos 90 não rompeu a desigualdade social no acesso ao sistema. O que houve no período foi um aumento da participação da camada mais abastada na população brasileira que cursa faculdade. A conclusão a que chegou o sociólogo Simon Schwartzman, a partir de dados do IBGE, se harmoniza perfeitamente com o modelo de expansão pelo qual as autoridades públicas na área da educação optaram, baseado na abertura do setor à iniciativa privada.
Há demanda crescente por formação universitária na sociedade brasileira. O governo decidiu deixar que o mercado se incumbisse de suprir parte dessa demanda. Assim, o pequeno estrato social que dispõe de renda para bancar curso universitário alavancou a expansão do sistema, num ambiente burocrático marcado pela desregulamentação. O rápido crescimento das vagas se deu em detrimento da qualidade do ensino.
Além disso, o modelo de expansão adotado pelo governo não é capaz de proporcionar desenvolvimento científico nem democratização do acesso à faculdade. Para atingir esses objetivos, será preciso adotar um outro conjunto de iniciativas.
Ensino superior de qualidade é elitizado em todo o mundo. A diferença é que essa elitização se dá mais em razão do desempenho intelectual dos indivíduos do que de sua renda familiar. Estados democráticos maduros se esforçam em proporcionar condições equânimes de acesso ao ensino superior, seja ao filho do pedreiro, seja ao filho do empresário. Há enorme desperdício de talento quando, como ocorre no Brasil, a maioria maciça da população está, por fatores socioeconômicos, alijada da possibilidade de cursar faculdade.
Apenas um ensino fundamental e médio de qualidade bem como uma expansão seletiva das vagas no superior, financiados com dinheiro público, poderão fazer com que diminua a barreira de classes no acesso ao saber. Tudo isso deve ser feito sob o critério da excelência. É preciso repelir as propostas de implantar cotas nas universidades públicas para segmentos sociais específicos.


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