São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Mais um aventureiro?

SÃO PAULO - A onda direitista que varre a Europa fez domingo sua primeira incursão, pelo menos em tempos recentes, pela América Latina, na forma da eleição de Álvaro Uribe para a Presidência da Colômbia.
É verdade que, entre os candidatos com viabilidade eleitoral, ficava difícil escolher quem não fosse de direita, mas Uribe é o que mais se assemelha aos Le Pen e Cia. que têm assustado os europeus ultimamente.
Conversei com ele há pouco mais de um ano, quando era apenas terceiro colocado nas pesquisas, bem atrás dos dois primeiros.
Deu a nítida impressão de ser um desses perigosos voluntaristas, estilo "prendo e arrebento", que acha que basta querer para que a realidade se curve à sua vontade.
Esse tipo de mentalidade em geral denota desprezo pelo jogo político, partidário e congressual inerente à democracia.
Uribe percebeu -o que, de resto, não é difícil- que a grande maioria dos colombianos está saturada da violência. E conseguiu convencê-la de que a violência é a melhor forma de acabar com a violência.
Funcionará? O tempo dirá.
Por agora, o importante é observar que ruiu na eleição de domingo mais um sistema partidário, entre os muitos da América Latina que vão sendo substituídos pelo personalismo.
A Colômbia é, desde a independência, governada por liberais ou conservadores. Uribe era liberal, agora é independente, uma maneira elegante de dizer franco-atirador.
Bem ou mal (mais mal que bem, para ser franco), o sistema partidário conseguiu manter a Colômbia na trilha democrática, com todos os problemas conhecidos, mesmo quando o subcontinente quase todo mergulhava nas sombras do autoritarismo.
Os exemplos de Fujimori e Collor de Mello, para não alongar a lista, só mostram que a América Latina, se capengava com o seu sistema de partidos, capotou quando fugiu para franco-atiradores.


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