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CLÓVIS ROSSI
Mais um aventureiro?
SÃO PAULO - A onda direitista que varre a Europa fez domingo sua primeira incursão, pelo menos em tempos recentes, pela América Latina, na
forma da eleição de Álvaro Uribe para a Presidência da Colômbia.
É verdade que, entre os candidatos
com viabilidade eleitoral, ficava difícil escolher quem não fosse de direita,
mas Uribe é o que mais se assemelha
aos Le Pen e Cia. que têm assustado
os europeus ultimamente.
Conversei com ele há pouco mais de
um ano, quando era apenas terceiro
colocado nas pesquisas, bem atrás
dos dois primeiros.
Deu a nítida impressão de ser um
desses perigosos voluntaristas, estilo
"prendo e arrebento", que acha que
basta querer para que a realidade se
curve à sua vontade.
Esse tipo de mentalidade em geral
denota desprezo pelo jogo político,
partidário e congressual inerente à
democracia.
Uribe percebeu -o que, de resto,
não é difícil- que a grande maioria
dos colombianos está saturada da
violência. E conseguiu convencê-la de
que a violência é a melhor forma de
acabar com a violência.
Funcionará? O tempo dirá.
Por agora, o importante é observar
que ruiu na eleição de domingo mais
um sistema partidário, entre os muitos da América Latina que vão sendo
substituídos pelo personalismo.
A Colômbia é, desde a independência, governada por liberais ou conservadores. Uribe era liberal, agora é independente, uma maneira elegante
de dizer franco-atirador.
Bem ou mal (mais mal que bem,
para ser franco), o sistema partidário
conseguiu manter a Colômbia na trilha democrática, com todos os problemas conhecidos, mesmo quando o
subcontinente quase todo mergulhava nas sombras do autoritarismo.
Os exemplos de Fujimori e Collor de
Mello, para não alongar a lista, só
mostram que a América Latina, se
capengava com o seu sistema de partidos, capotou quando fugiu para
franco-atiradores.
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