São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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HISTÓRIA DE SUCESSO

O caso do Brasil com a Aids é decididamente uma história de sucesso. O país foi a primeira nação em desenvolvimento a garantir o acesso universal dos doentes aos medicamentos anti-retrovirais, capazes de controlar a moléstia. Com isso, verificou-se uma significativa redução na mortalidade pela Aids. No campo da prevenção também têm surgido boas notícias. Desde o final da década passada, vem diminuindo o número de novos casos registrados no país, o que sugere uma tendência de queda da epidemia.
Nem tudo, porém, são boas novas. Observando mais de perto os recém-divulgados dados do Ministério da Saúde, relativos a 2002, podem-se identificar vários grupos vulneráveis que demandam maior atenção das autoridades, tanto na prevenção como no tratamento. É muito preocupante, por exemplo, o caso das mulheres. A redução da mortalidade feminina pela Aids foi bem menor do que a masculina. No período entre 1996 (quando começou a distribuição de remédios) e 2002, os óbitos de homens caíram 42%, contra apenas 18,6% dos de mulheres. No Norte e no Nordeste as mortes chegaram mesmo a aumentar.
Uma das explicações para o fenômeno está no fato de que a mulher não se percebe como possível portadora do vírus e demora a fazer o teste para detectar a Aids. Quanto mais tardio o diagnóstico, mais difícil é o tratamento.
Outro grupo que merece especial atenção é o dos usuários de drogas injetáveis. Atribui-se à sua concentração no sul do país a menor redução do número de novos casos nessa região em 2002 em relação a 2001. Os dados mais do que justificam a ampliação dos programas de distribuição de seringas para viciados.
O sucesso do Brasil ao lidar com a Aids levanta uma questão mais incômoda: por que não conseguimos empenho semelhante quando se trata de combater outras doenças, mesmo em casos que não exigem a aplicação de recursos tão vultosos?


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