São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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IGOR GIELOW

O gás que o PIB dá

BRASÍLIA - Ainda é cedo para avaliar a sustentabilidade dos números de expansão do PIB. Do ponto de vista político, porém, é a melhor notícia que o governo recebeu neste ano. O Planalto vinha levando um vareio desde o dia 13 de fevereiro, quando começou o caso Waldomiro Diniz.
Depois, só crise. A economia cambaleante, pressões externas variadas, o abril vermelho do MST, o Congresso parado devido à inútil discussão da reeleição das Mesas, o PMDB conflagrado, reflexos das eleições municipais, o bombardeio à política econômica pelos aliados, a acefalia da coordenação política, a inação dos ministros, as intrigas palacianas, greves de servidores, o caso "NYT" -a lista é longa, e nem se falou aqui das sálvias vermelhas de Marisa Letícia.
Lula foi buscar no Oriente sua calmaria interna. Conseguiu emplacar uma agenda externa positiva, como um presidente americano que vê problemas internos se agravarem e prioriza a política internacional.
Só que o Brasil não é os EUA, e as pretensões do governo são o que são: pretensões. E, no particular chinês, a despeito de boas notícias ainda a confirmar, a viagem pode acabar sendo lembrada pela confusão de uma negociação nuclear incipiente afetada pela incontinência verbal de neófitos em assuntos tão delicados.
A partir de hoje, em Guadalajara, a equipe lulista vai enfrentar negociações mais reais, adiantando o clima pesado que enfrentará em sua volta.
Em Brasília, esperam Lula no mesmo lugar todos os projetos que o governo disse serem prioritários, essenciais -PPPs e Lei de Falências, entre outros. As reformas que "aprovou" no ano passado jazem semimortas, apodrecendo lá do outro lado da praça dos Três Poderes. Também poderá ver o Supremo aplicar-lhe um golpe duríssimo se vetar a cobrança dos inativos. Isso fora os sortilégios ainda ocultos da Operação Vampiro, um manancial de escândalos.
Neste contexto, os dados do PIB vão dar gás político para o governo. Mas fôlego não é tudo o que será preciso para lidar com os problemas à frente.


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