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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Serra, a USP e a foto
SÃO PAULO - O que querem as
mulheres? A clássica pergunta de
Freud não vale para José Serra. Todos sabem a resposta: ele só pensa
naquilo. Mas 2010 ainda está longe,
felizmente para Serra, porque seu
governo começou de forma bastante decepcionante. Ou seria melhor
dizer sintomática? A crise da USP é
o melhor exemplo.
O governo meteu os pés pelas
mãos. Após nomear para a nova Secretaria do Ensino Superior este
que é, no meio universitário, uma
unanimidade às avessas, quis ainda
transformar José Aristodemo Pinotti no presidente do conselho de
reitores. Pegou tão mal que Serra
desistiu do seu interventor branco.
O recuo, no entanto, não desfaz a
sensação de que pretendia enquadrar as universidades -este é o sentido geral implícito no conjunto dos
decretos contra o qual se rebelaram
os estudantes que estão na reitoria.
Obrigado a vir a público, o governo Serra tergiversa, desconversa,
age reiteradamente de forma oblíqua. Ora parece pouco seguro de
seus propósitos, ora dá a impressão
de que quer engambelar a platéia.
O fato é que se negou, até aqui, a
rever o decreto mais polêmico, que
submete à aprovação da Secretaria
da Fazenda o remanejamento de
verbas na universidade. Por quê?
Está em curso uma campanha de
demonização dos estudantes -retrógrados, baderneiros, urram, histéricos, os arautos do novo "Estado
de direita". Há insuficiências, eventuais exageros na posição estudantil? Claro que sim. Mas são menores, bem menos nocivos que a batatada patrocinada pelo Estado, cujos
erros, esses sim crassos, aparecem
sob a forma de "deslizes", "mal-entendidos". Onde está a ideologia dominante da nossa época?
Serra foi visto há poucos dias numa imagem bizarra, empunhando
um trabuco, quando visitava a polícia. Os estudantes estão certos ao
espalhar a reprodução da foto pelas
barricadas em torno da reitoria. Áulicos incitam o tucano para que a
tropa de choque entre em ação. A
depender do desfecho da crise, a
gestão Serra já terá produzido a sua
fotografia para a posteridade.
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