São Paulo, segunda-feira, 28 de maio de 2007

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FERNANDO RODRIGUES

Formas de imperialismo

TORONTO - A discussão a respeito da supremacia do Brasil sobre o Paraguai parece piada de salão quando comparada às relações entre Estados Unidos e Canadá.
Quem está em Toronto e embarca para Boston, nos Estados Unidos, depara com uma situação inusitada. Os canadenses permitiram aos vizinhos a montagem de uma sessão de controle de passaportes no seu aeroporto local.
Quem sai do Canadá em direção aos EUA já tem seu passaporte verificado por funcionários norte-americanos. O ritual humilhante (e inútil) da retirada dos sapatos, exigido pelos EUA, também se repete em solo canadense.
Seria o mesmo se a Polícia Federal do Brasil montasse um guichê dentro do aeroporto de Assunção, no Paraguai, para verificar a documentação dos passageiros.
No caso do Canadá, o turista ou viajante a negócios "entra" nos Estados Unidos ainda estando no aeroporto de Toronto.
Essa situação bizarra agravou-se depois do 11 de Setembro. Os canadenses são cada vez mais apêndices dos norte-americanos.
Na última semana, numa conferência de jornalistas em Toronto, um dos convidados especiais foi Maher Arar, um engenheiro sírio nacionalizado canadense. Ele relatou sua prisão, em 2002, num saguão de trânsito de aeroporto em Nova York. Ficou incomunicável duas semanas. Era acusado de pertencer à Al Qaeda. Transferido para a Síria, ficou lá cerca de um ano -submetido a torturas regulares.
Demorou quase um ano para o governo do Canadá agir com eficácia e libertar Arar, cuja nacionalidade é canadense -e contra quem as acusações de prática de terrorismo nunca foram comprovadas.
Os paraguaios certamente têm razões para reclamar do Brasil. Mas ficariam mais horrorizados se os brasileiros se comportassem como os EUA em relação ao Canadá.


frodriguesbsb@uol.com.br

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