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FERNANDO RODRIGUES
Formas de imperialismo
TORONTO - A discussão a respeito da supremacia do Brasil sobre o
Paraguai parece piada de salão
quando comparada às relações entre Estados Unidos e Canadá.
Quem está em Toronto e embarca para Boston, nos Estados Unidos, depara com uma situação inusitada. Os canadenses permitiram
aos vizinhos a montagem de uma
sessão de controle de passaportes
no seu aeroporto local.
Quem sai do Canadá em direção
aos EUA já tem seu passaporte verificado por funcionários norte-americanos. O ritual humilhante (e inútil) da retirada dos sapatos, exigido
pelos EUA, também se repete em
solo canadense.
Seria o mesmo se a Polícia Federal do Brasil montasse um guichê
dentro do aeroporto de Assunção,
no Paraguai, para verificar a documentação dos passageiros.
No caso do Canadá, o turista ou
viajante a negócios "entra" nos Estados Unidos ainda estando no aeroporto de Toronto.
Essa situação bizarra agravou-se
depois do 11 de Setembro. Os canadenses são cada vez mais apêndices
dos norte-americanos.
Na última semana, numa conferência de jornalistas em Toronto,
um dos convidados especiais foi
Maher Arar, um engenheiro sírio
nacionalizado canadense. Ele relatou sua prisão, em 2002, num saguão de trânsito de aeroporto em
Nova York. Ficou incomunicável
duas semanas. Era acusado de pertencer à Al Qaeda. Transferido para
a Síria, ficou lá cerca de um ano
-submetido a torturas regulares.
Demorou quase um ano para o
governo do Canadá agir com eficácia e libertar Arar, cuja nacionalidade é canadense -e contra quem as
acusações de prática de terrorismo
nunca foram comprovadas.
Os paraguaios certamente têm
razões para reclamar do Brasil. Mas
ficariam mais horrorizados se os
brasileiros se comportassem como
os EUA em relação ao Canadá.
frodriguesbsb@uol.com.br
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