|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Surto cívico
RIO DE JANEIRO - Tenho sido
questionado com frequência sobre
se a seleção brasileira vai fazer bonito ou dar vexame na Copa do
Mundo. A resposta é não sei e, francamente, não estou com os fígados
em sobressalto, à espera.
Tenho uma relação meio espírito
de porco com a seleção. Só torço
por ela se jogar bem e bonito, ganhe
ou não. Ganhar não é tão importante. Domingos da Guia, Leônidas da
Silva e Zizinho nunca foram campeões do mundo; Dunga, Gilberto
Silva e Kleberson são. Viu como
não é importante?
Sou da teoria de que, podendo
convocar os jogadores que quiser,
mesmo que joguem em Júpiter, o
treinador do Brasil está obrigado a
armar o melhor time. Donde não
abro mão de vê-lo jogar com categoria, dar espetáculo e lutar. Isso
significa que a última vez em que
me empolguei com a seleção foi na
Copa de 1982 -o time de Zico, Sócrates, Falcão, Júnior, Leandro. As
Copas de 1994 e 2002, vencidas pelo Brasil, não me inspiraram admiração ou prazer.
É diferente de quando se trata do
nosso time de coração. Este entra
em campo com os jogadores de que
dispõe e que, às vezes, estão longe
de ser os melhores. Azeite. É ele que
nos redime. Por isso, tem de vencer
sempre, mesmo jogando mal, chutando de canela, e nem que seja
com um gol de mão e em "offside",
aos 47 do 2º tempo.
A Copa do Mundo é aquele período de quatro em quatro anos em
que pessoas que passaram os quatro anos anteriores alheias a futebol
são acometidas de um incontrolável surto cívico, cobrem-se de verde
e amarelo e torcem pelo Brasil como se soubessem quem é a bola.
Mas, desta vez, está difícil até para
elas. Exceto por Kaká e, talvez, Robinho e Julio César, não creio que
saibam sequer identificar os outros
jogadores -todos monotonamente
parecidos, de cabeça raspada, brinquinho na orelha e falando "toicida" em vez de "torcida".
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Foi uma cacetada Próximo Texto: José Sarney: Navegar sem mouse
Índice
|