São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997.



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MAU EXEMPLO EM MINAS

A greve das polícias de Minas Gerais teve um desenvolvimento e um desfecho que podem representar uma séria ameaça para todo o país.
Ao admitir negociar com um grupo armado, o governo estadual, além de ficar na posição de refém, foi tolerante com supostos agentes da ordem que violaram a Constituição, ameaçando as bases da própria democracia. A atuação do governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) acabou por chancelar um tipo de comportamento que servirá de péssimo e perigoso exemplo para corporações armadas em todo o país.
Azeredo, ao que parece, não dispunha de informações adequadas sobre o grau de rebeldia na tropa, o que lhe impediu de agir preventivamente. Ademais, suscitou descontentamento ainda maior entre soldados, cabos e praças quando aumentou apenas os salários de oficiais.
Por fim, Eduardo Azeredo admitiu submeter-se às imposições de amotinados e falhou ao chancelar a revolta, atendendo a reivindicações dos grevistas armados.
Entretanto, o respeito ao Estado de Direito exigiria que o poder público determinasse a deposição das armas, punisse rigorosamente os faltosos e só então dialogasse com os grevistas, uma vez que a lei, no caso dos PMs, proíbe toda espécie de greve.
O problema de Minas torna-se ainda mais grave quando se constata que ele transcende as barreiras do próprio Estado. Não se ignoram as dificuldades salariais de quase todas as corporações das unidades federativas do país. Contudo, se os amotinados mineiros conseguiram, por força das armas e com a irresponsável conivência do governo estadual, impor uma parte de suas demandas, por que outros grupos que dispõem de armamento e vivem problemas financeiros semelhantes não seriam levados a imitá-los?
É praticamente inútil imaginar o caos institucional em que o país submergiria caso prevalecesse esse tipo de procedimento. As forças policiais são a medula mesma da ordem. Devem ser respeitadas, mas têm o dever fundamental de cumprir a lei.





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