|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RACISMO CORDIAL
Os peemedebistas recém-integrados ao ministério infelizmente parecem inclinados a colaborar para incrementar o nada modesto repertório de frases desastradas e lamentáveis da política brasileira.
Primeiro foi o ministro Íris Rezende. Às vésperas de assumir justamente a pasta da Justiça, o então senador
declarou -com a espontaneidade no
caso condenável de quem ainda não
se deu conta das responsabilidades
essenciais do novo cargo- que o
"crime é, muitas vezes, inevitável",
referindo-se ao episódio da morte de
três sem-teto em confronto com a
Polícia Militar paulista.
Agora foi a vez de Eliseu Padilha,
responsável pelo Ministério dos
Transportes. Em entrevista sobre a
sua pasta, no interior de São Paulo, o
ministro comparou os negros ao asfalto, com ressalva favorável ao betume utilizado na pavimentação. Referindo-se aos "dois pretos que são
admirados por todo o Brasil", mencionou seu colega Pelé, "nosso rei
de sempre", e o "rei asfalto", "o
preto que todo mundo gosta".
Não é preciso um grande esforço
interpretativo para encontrar, nas
entrelinhas da estabanada declaração, o reforço de um preconceito racial. Talvez o ministro estivesse a dizer que não duvida de que existam
"pretos" de que muita gente não
gosta. Enfim, as frases revelam uma
mistura de falta de compostura, racismo velado e humor tosco. É lamentável que Padilha se permita fazer esse tipo de graça infeliz, ainda
mais em público, investido de um
dos cargos mais altos da nação.
Infelizmente, no país do descaso
com valores republicanos, tal comportamento merecerá possivelmente
apenas piadas, talvez desculpas rotas
e reprimendas tímidas quando seria
recomendável que o ministro devesse de fato explicar sua atitude.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|