São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997.



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RACISMO CORDIAL

Os peemedebistas recém-integrados ao ministério infelizmente parecem inclinados a colaborar para incrementar o nada modesto repertório de frases desastradas e lamentáveis da política brasileira.
Primeiro foi o ministro Íris Rezende. Às vésperas de assumir justamente a pasta da Justiça, o então senador declarou -com a espontaneidade no caso condenável de quem ainda não se deu conta das responsabilidades essenciais do novo cargo- que o "crime é, muitas vezes, inevitável", referindo-se ao episódio da morte de três sem-teto em confronto com a Polícia Militar paulista.
Agora foi a vez de Eliseu Padilha, responsável pelo Ministério dos Transportes. Em entrevista sobre a sua pasta, no interior de São Paulo, o ministro comparou os negros ao asfalto, com ressalva favorável ao betume utilizado na pavimentação. Referindo-se aos "dois pretos que são admirados por todo o Brasil", mencionou seu colega Pelé, "nosso rei de sempre", e o "rei asfalto", "o preto que todo mundo gosta".
Não é preciso um grande esforço interpretativo para encontrar, nas entrelinhas da estabanada declaração, o reforço de um preconceito racial. Talvez o ministro estivesse a dizer que não duvida de que existam "pretos" de que muita gente não gosta. Enfim, as frases revelam uma mistura de falta de compostura, racismo velado e humor tosco. É lamentável que Padilha se permita fazer esse tipo de graça infeliz, ainda mais em público, investido de um dos cargos mais altos da nação.
Infelizmente, no país do descaso com valores republicanos, tal comportamento merecerá possivelmente apenas piadas, talvez desculpas rotas e reprimendas tímidas quando seria recomendável que o ministro devesse de fato explicar sua atitude.





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