São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Tão igual, tão diferente, tão real

SÃO PAULO - O Brasil ficou tão diferente depois que a inflação se tornou uma pequenez, boa parte dela ora apenas um resíduo, um objeto de discussão esotérica e ideológica de técnicos do mercado e do governo. Ficou tão diferente depois do Real. Tão diferente? Ficou, na economia.
Não conhecemos a economia do país. Não sabemos como ela funciona em velocidade de cruzeiro, sem choques ou incompetências crassas ou de origem política, como foi o caso do real forte ou do exagero de gasto público do primeiro FHC, que serviram para reelegê-lo. Não sabemos se o país pode crescer 3% ou 6%, se é que pode, pois a ruína da dívida deixada por FHC-Malan, incrementada por Lula da Silva, ainda pesará por uma década sobre a miséria deste país.
Governo e mercado gostam de manipular estatísticas como a de "crescimento potencial do PIB", que não iria além de 3,5% ao ano, dizem. Não há série de dados longa o bastante que permita estimativas razoáveis. Logo, essa conversa tem muito de cascata ideológica.
Mas, passada uma década de Real, vê-se que o país é também tão o mesmo de sempre. Mais ou menos desigual como nos últimos 20 anos. Pobreza e indigência, um terço do país, no mesmo nível por dez anos.
Nesses dez anos também se consolidou um hiper-realismo, o conservadorismo modernizador de FHC travestido de destino inelutável no governo Lula, em parte devido à ruína da dívida deixada pelo Real, em parte devido à mediocridade petista-lulista, ao espírito conservador do tempo e ao reino universal da finança.
Quase duas décadas de democracia, uma de Real e de hiper-realismo conservador: o país testou todos os seus partidos maiores, quase todos os seus quadros políticos melhores e não se entrevê alternativa ou embate social, político e intelectual forte que sugira políticas que não sejam o antigo besteirol petista, macumbas socioeconômicas e quejandos.
É preciso tirar férias do Brasil. É o que este colunista fará nas próximas quatro semanas.


Texto Anterior: Editoriais: CRESCIMENTO GLOBAL

Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Deseducação política
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.