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VINICIUS TORRES FREIRE
Tão igual, tão diferente, tão real
SÃO PAULO - O Brasil ficou tão diferente depois que a inflação se tornou
uma pequenez, boa parte dela ora
apenas um resíduo, um objeto de discussão esotérica e ideológica de técnicos do mercado e do governo. Ficou
tão diferente depois do Real. Tão diferente? Ficou, na economia.
Não conhecemos a economia do
país. Não sabemos como ela funciona
em velocidade de cruzeiro, sem choques ou incompetências crassas ou de
origem política, como foi o caso do
real forte ou do exagero de gasto público do primeiro FHC, que serviram
para reelegê-lo. Não sabemos se o
país pode crescer 3% ou 6%, se é que
pode, pois a ruína da dívida deixada
por FHC-Malan, incrementada por
Lula da Silva, ainda pesará por uma
década sobre a miséria deste país.
Governo e mercado gostam de manipular estatísticas como a de "crescimento potencial do PIB", que não
iria além de 3,5% ao ano, dizem. Não
há série de dados longa o bastante
que permita estimativas razoáveis.
Logo, essa conversa tem muito de
cascata ideológica.
Mas, passada uma década de Real,
vê-se que o país é também tão o mesmo de sempre. Mais ou menos desigual como nos últimos 20 anos. Pobreza e indigência, um terço do país,
no mesmo nível por dez anos.
Nesses dez anos também se consolidou um hiper-realismo, o conservadorismo modernizador de FHC travestido de destino inelutável no governo Lula, em parte devido à ruína
da dívida deixada pelo Real, em parte devido à mediocridade petista-lulista, ao espírito conservador do tempo e ao reino universal da finança.
Quase duas décadas de democracia, uma de Real e de hiper-realismo
conservador: o país testou todos os
seus partidos maiores, quase todos os
seus quadros políticos melhores e
não se entrevê alternativa ou embate
social, político e intelectual forte que
sugira políticas que não sejam o antigo besteirol petista, macumbas socioeconômicas e quejandos.
É preciso tirar férias do Brasil. É o
que este colunista fará nas próximas
quatro semanas.
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