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FERNANDO RODRIGUES
Deseducação política
BRASÍLIA - Há uma silenciosa deseducação política em curso na maneira de governar do PT. Fidelidade virou uma tese acadêmica.
O exemplo vivo é o comunista PC
do B. A sigla tem nove deputados, ou
1,75% das 513 cadeiras da Câmara.
Recebeu dois dos 35 ministérios de
Lula. Resumo: tem 4,5 deputados para cada ministro.
O ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política) é do PC do B. Distribui
verbas e cargos para deputados e senadores. Conclusão: o PC do B é pequeno, mas é o partido mais fiel ao
Planalto, certo? Errado.
Na votação do salário mínimo, só
cinco (55,56%) dos nove deputados
do PC do B votaram a favor dos R$
260. Haverá uma reprimenda para
os dissidentes? Nem pensar.
No próprio PT, 74 (83,15%) dos 89
deputados votaram a favor do salário mínimo de R$ 260. No máximo,
os rebeldes petistas tomarão uma
suspensão da bancada - como agora o Congresso não trabalha, não haverá punição na prática.
O sofisma petista é que os deputados contra os R$ 260 não serão expulsos porque evitaram um grau excessivo de virulência contra o governo
-algo diverso do que se deu com os
quatro expelidos no ano passado
(Heloísa Helena, Babá, Luciana Genro e João Fontes).
É curioso o PT. Ao expulsar os quatro congressistas em 2003, o argumento foi que eles tinham votado
contra Lula na reforma da Previdência. A direção petista negou haver
um crime (sic) de opinião. OK. Agora, um ano depois, votar contra o governo no salário mínimo não basta.
Os dissidentes escaparam da punição
porque foram mais covardes -só votaram contra, mas não ofenderam o
presidente da República.
No período pós-ditadura, o PT foi a
única sigla que, para o bem e para o
mal, cobrou fidelidade partidária de
seus congressistas. Ao abdicar dessa
ferramenta, assemelha-se cada vez
mais ao que sempre existiu por aí. E
contribuiu para deseducar politicamente uma legião de seguidores.
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