São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Deseducação política

BRASÍLIA - Há uma silenciosa deseducação política em curso na maneira de governar do PT. Fidelidade virou uma tese acadêmica.
O exemplo vivo é o comunista PC do B. A sigla tem nove deputados, ou 1,75% das 513 cadeiras da Câmara. Recebeu dois dos 35 ministérios de Lula. Resumo: tem 4,5 deputados para cada ministro.
O ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política) é do PC do B. Distribui verbas e cargos para deputados e senadores. Conclusão: o PC do B é pequeno, mas é o partido mais fiel ao Planalto, certo? Errado.
Na votação do salário mínimo, só cinco (55,56%) dos nove deputados do PC do B votaram a favor dos R$ 260. Haverá uma reprimenda para os dissidentes? Nem pensar.
No próprio PT, 74 (83,15%) dos 89 deputados votaram a favor do salário mínimo de R$ 260. No máximo, os rebeldes petistas tomarão uma suspensão da bancada - como agora o Congresso não trabalha, não haverá punição na prática.
O sofisma petista é que os deputados contra os R$ 260 não serão expulsos porque evitaram um grau excessivo de virulência contra o governo -algo diverso do que se deu com os quatro expelidos no ano passado (Heloísa Helena, Babá, Luciana Genro e João Fontes).
É curioso o PT. Ao expulsar os quatro congressistas em 2003, o argumento foi que eles tinham votado contra Lula na reforma da Previdência. A direção petista negou haver um crime (sic) de opinião. OK. Agora, um ano depois, votar contra o governo no salário mínimo não basta. Os dissidentes escaparam da punição porque foram mais covardes -só votaram contra, mas não ofenderam o presidente da República.
No período pós-ditadura, o PT foi a única sigla que, para o bem e para o mal, cobrou fidelidade partidária de seus congressistas. Ao abdicar dessa ferramenta, assemelha-se cada vez mais ao que sempre existiu por aí. E contribuiu para deseducar politicamente uma legião de seguidores.


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