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CARLOS HEITOR CONY
Vaias e soluços
RIO DE JANEIRO - Foram chocantes as vaias a Lula e a membros do atual
governo durante o velório de Brizola
no Rio e em Porto Alegre. Não sei
quem definiu a vaia como o aplauso
dos que não gostam. É o caso das
vaias nos estádios de futebol, onde
são comuns as manifestações de desagrado para com o juiz, um jogador,
um time, o jogo em si. Nelson Rodrigues dizia que no Maracanã se vaiava até minuto de silêncio.
Mas tudo tem sua hora. O Rio,
principalmente o Rio de Brizola,
marcou-se pela emoção, e sua morte
emocionou a todos, amigos e desafetos, que afinal descobriram que o ex-governador era um "doce" no trato
pessoal. Depois do Nelson, lembro
Tancredo Neves, que, mesmo divergindo e recebendo farpas de Brizola,
o considerava um doce. Os que vaiaram Lula foram os mesmos que em
quatro eleições votaram nele para
presidente, guiados pelo carismático
líder que nos últimos tempos se tornara inofensivo, com seu vocabulário
próprio, suas metáforas pitorescas,
bem melhores que as de Lula.
Foram os mesmos, também, que jogaram pedras em Collor, que mais
tarde seria apoiado por Brizola, devido a detalhe fundamental de seu
ideário político: a educação integral,
herança de Anísio Teixeira e parceria
com Darcy Ribeiro. Misturar Anísio
Teixeira, Darcy e Collor é dose, só
mesmo Brizola seria capaz de tão assombrosa mixórdia.
Ao lado das vaias, mas com o mesmo sentido às avessas, os soluços de
Garotinho e Rosinha Matheus, de
Cesar Maia, de antigos correligionários que com ele romperam. Não sei
se Marcello Alencar, ex-governador e
ex-prefeito, Saturnino Braga, ex-prefeito, Miro Teixeira, Artur da Távola
e outros chegaram a chorar. Tenho a
certeza de que o próprio Lula, apesar
das vaias e de tudo o que Brizola ultimamente dizia dele, emotivo como é,
fez um esforço danado para não chorar diante do cadáver de quem o chamou de sapo barbudo. O coração tem
razões que só o coração conhece.
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