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Marketing das lágrimas
VALDO CRUZ
São Paulo - Participei, na semana
passada, de um evento voltado para
crianças carentes. Uma empresa lançou uma campanha para arrecadar
recursos destinados a uma entidade
que atende menores abandonados.
A empresa e a entidade são sérias.
Como o objetivo não é destacar o lado
positivo do evento, que realmente havia, mas o espetáculo que presenciei,
prefiro não revelar os nomes das duas
para não confundir as coisas.
Sinceramente, não me senti bem naquele ambiente. Sei que havia gente
bem-intencionada no salão apinhado.
Estava tão cheio que era impossível
circular sem sair trombando com alguém. E com um som ensurdecedor, o
que tornava muito difícil conversar
sobre alguma coisa.
Mas uma boa parte das pessoas que
decidiram "prestigiar" o evento estava
ali muito mais preocupada com sua
imagem do que com o objetivo principal do encontro. A preocupação central de alguns, ou muitos, era fazer pose para fotos.
Era um sorrisinho falso aqui, um
abraço no estilo amigos inseparáveis
que quase nunca se vêem ali, uma tentativa de sair naquela cena com aquele artista acolá. Em outras palavras, o
que assisti foi a um espetáculo de marketing social. Quase deprimente.
Eis o novo fenômeno dos tempos de
pobreza crescente. Está fazendo sucesso posar de defensor de criança abandonada. Quando a pessoa faz a pose,
mas mete a mão no bolso, vá lá. O sujeito fatura, mas alguém é beneficiado. Menos mal. Pior seria não fazer
nada.
O difícil de engolir é que tem gente
que aparece nessas reuniões, fatura o
seu e não se dispõe a derramar nem
uma gota de suor pela causa. Uma
contribuição, então, nem pensar. Posso estar errado, mas naquela noite
muitos se encaixavam nesse perfil.
Triste país esse, em que pessoas procuram lustrar sua imagem com a desgraça alheia.
Em tempo. Não sou um descrente
nessa área. Acredito e me emociono
com pessoas que realmente se dedicam
a uma causa social. É só um desabafo.
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