|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Ética, de Paulo Betti a Chaui
SÃO PAULO- O avanço do favoritismo de Lula começa a remover
certos embaraços morais de quem o
apóia. Isso ficou claro na última semana entre os artistas: passaram do
silêncio constrangido ao ataque desabrido. "Não dá para fazer política
sem sujar as mãos", disse o ator
Paulo Betti; "Não estou preocupado
com a ética do PT. O partido fez o
jogo que tem que fazer para governar", emendou o músico Wagner
Tiso, ambos convidados para o convescote com Lula no apartamento
do músico-ministro Gilberto Gil.
O elogio nesses termos da realpolitik petista provocou muita grita
indignada. Não seria para tanto. Os
artistas só fizeram levantar o véu da
hipocrisia do debate eleitoral. Disseram o que qualquer eleitor de Lula que não seja incauto, lunático ou
movido por má-fé já sabia.
Mas os artistas ofuscaram uma
outra defesa da reeleição de Lula,
esta mais "elevada", feita por Marilena Chaui. Em palestra no Rio na
última quinta-feira, a filósofa primeiro se recusou a tratar com a imprensa burguesa. Como de hábito,
também não disse palavra sobre o
PT, Lula ou o mensalão. Foi a homenagem involuntária que prestou
ao tema do ciclo de que participava:
"O Esquecimento da Política".
O que fez então Chaui? Mostrou à
platéia por que, segundo o filósofo
Espinosa, do século 17, a boa política se dá quando a esperança vence o
medo. Ou seja: depois de mais de 20
anos debruçada sobre seu pensador
predileto e mais de mil páginas dedicadas às "nervuras do real", Chaui
termina por colocar Espinosa no
colo de Duda Mendonça.
Pior: a versão filosofante do slogan publicitário aparece com quatro anos de atraso, como se entre a
fantasia vendida em 2002 e hoje
não existisse o estelionato político
operado pelo lulismo. A esperança,
aqui, está a serviço do obscurantismo tarefeiro, não do pensamento.
No livro sobre "O Silêncio dos Intelectuais", que acaba de sair, Francis Wolff escreve que "nunca os intelectuais falaram tanto para dizer
por que não dizem nada". É verdade. Chaui precisa ouvir Wagner Tiso e aprender com Paulo Betti.
Texto Anterior: Editoriais: Contas suspeitas Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: O fim da reeleição Índice
|