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CLÓVIS ROSSI
Templo é dinheiro?
SÃO PAULO - Passo a coluna para
o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), porque o que ele narra consegue ser estarrecedor mesmo em um
país em que parecia esgotado o estoque de estarrecimentos.
Chico fala da madrugada de 26
para 27 deste mês, em que a Câmara dos Deputados aprovou um absurdo projeto de lei que "dispõe sobre as garantias e direitos fundamentais ao livre exercício da crença
e dos cultos religiosos" ("você sabia
que estavam ameaçados?", pergunta o deputado. E você, sabia?).
Passemos ao estarrecedor, na palavra do deputado:
"Se o acordo Santa Sé/governo
brasileiro já era questionável em
vários aspectos, o acordão com setores evangélicos (não a totalidade), patrocinado por quase todos os
partidos (inclusive o "oposicionista" DEM), à exceção do PSOL, foi
um absurdo. O projeto tramitou
numa celeridade inédita (foi apresentado em julho agora) e, com o relator Eduardo Cunha (PMDB-RJ,
neoevangélico), avançou a toque de
caixa em plenário, sem ter sido
nem sequer proposto no colégio de
líderes".
Consequência da aprovação: "É o
liberou geral. Agora, quem inventar
uma "instituição religiosa" terá sua
organização obrigatoriamente reconhecida pelo Estado no simples
ato de criação, independentemente
de lastro histórico e cultural, doutrina, corpo de crença. É o supermercado aberto da "fé". E a "instituição" poderá modificar à vontade
suas instâncias. E suas atividades
gozarão de todas as isenções, imunidades e benefícios -fiscais, trabalhistas, patrimoniais- possíveis
e imagináveis".
O país já conhece o resultado do
que Chico Alencar chama de "supermercado da fé", graças às denúncias do Ministério Público contra a alta cúpula de um desses "supermercados", que tem também
uma rede de televisão, além de templos (aliás, Chico pergunta: "templo
é dinheiro?").
crossi@uol.com.br
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